
Justiça e fuzis: PMs acusados de executar delator do PCC são indiciados por homicídio
Empresário morto a tiros em frente ao aeroporto delatou facção criminosa e policiais civis antes de ser executado
Três policiais militares foram oficialmente indiciados nesta segunda-feira (11) pelo assassinato do empresário Vinicius Gritzbach, morto a tiros de fuzil em 8 de novembro de 2024, em frente ao Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos. A execução foi gravada por câmeras de segurança e chocou pelo grau de violência e exposição.
O cabo Denis Martins e o soldado Ruan Rodrigues foram apontados como os atiradores, enquanto o tenente Fernando Silva teria facilitado a fuga dos executores. Todos já estão presos no Presídio Romão Gomes, unidade destinada a policiais militares.
Um crime que escancarou conexões perigosas
Gritzbach não era um empresário comum. Investigado por lavagem de dinheiro para o Primeiro Comando da Capital (PCC), ele decidiu fechar um acordo de delação premiada e entregar informações valiosas sobre o esquema criminoso. Sua colaboração envolvia nomes de traficantes e também de policiais que atuavam em conluio com a facção, protegendo operações ilícitas em troca de dinheiro.
O preço da delação foi alto. O assassinato, classificado como homicídio quintuplamente qualificado, incluiu agravantes como motivo torpe, perigo comum – por ter ocorrido no maior aeroporto do país – e o uso de armas de alto calibre. Além disso, um motorista de aplicativo foi morto por uma bala perdida durante o ataque.
O braço do crime dentro do Estado
A execução de Gritzbach não é um caso isolado. Investigações paralelas já levaram à prisão de 12 pessoas, incluindo oito policiais civis, por envolvimento com o PCC. A denúncia aponta que esses agentes usavam a estrutura do Estado para garantir a impunidade da facção, facilitar tráfico de drogas, cometer homicídios e até sequestrar alvos estratégicos.
O Ministério Público já pediu que os acusados paguem R$ 40 milhões em indenizações pelos danos causados, enquanto as investigações seguem para identificar outros envolvidos.
E agora?
A força-tarefa deve concluir o relatório final do caso nesta sexta-feira (14), quando será enviado ao Ministério Público para decisão judicial. Além disso, as investigações continuam para descobrir quem financiou a execução e por que a escolta de Gritzbach – composta por PMs – não impediu o ataque.
Este caso levanta uma questão preocupante: até que ponto o crime organizado já se infiltrou nas instituições públicas? Quando aqueles que deveriam combater o crime se tornam os próprios criminosos, a linha entre justiça e corrupção se torna cada vez mais tênue.