Justiça exige que governo Tarcísio combata tortura nos presídios de SP

Justiça exige que governo Tarcísio combata tortura nos presídios de SP

Após denúncias graves de agressões, juíza ordena criação de comissão independente para fiscalizar unidades prisionais no estado; governo contesta decisão

A Justiça Federal deu um ultimato ao governo de São Paulo: criar, com urgência, um mecanismo estadual de prevenção e combate à tortura nos presídios paulistas. A decisão, assinada pela juíza Luciana Ortiz Zanoni, obriga a gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) a apresentar, em até dez dias, um cronograma detalhado para implantação do órgão, que terá 180 dias para iniciar os trabalhos.

Esse colegiado terá a missão de visitar presídios, centros de detenção, unidades da Fundação Casa e hospitais psiquiátricos, fiscalizando possíveis violações de direitos humanos. A decisão atende a uma ação movida pelo Ministério Público Federal, Defensoria Pública do Estado e Instituto de Defesa do Direito de Defesa (IDDD).

O Brasil, como lembrou a juíza, é signatário de tratados internacionais que obrigam o combate à tortura. Segundo ela, o estado está em débito com esse compromisso: “O relatório descreve um cenário devastador, no qual seres humanos são submetidos a tratamentos cruéis e degradantes”, afirmou.

Entre as unidades citadas no relatório do Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura estão penitenciárias como Presidente Venceslau I e II, Tupi Paulista, Dracena e Martinópolis. Justamente nesta última, denúncias recentes expõem o retrato mais cruel dessa realidade.

Casos chocantes em Martinópolis

Em fevereiro deste ano, defensores públicos visitaram a Penitenciária de Martinópolis e encontraram marcas visíveis de agressões em diversos detentos. Segundo os relatos, eles teriam sido espancados com barras de ferro, levados nus para as celas, ameaçados e até agredidos com as próprias algemas. Alguns disseram ter tido os pertences jogados fora logo na chegada.

A Defensoria Pública, diante do cenário, cobrou da Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) explicações e providências. O órgão, por sua vez, afirma que qualquer denúncia é apurada e que seus agentes seguem rígidos protocolos.

Em documento entregue à Justiça, os defensores exigem exame de corpo de delito para 51 presos e liberação das imagens das câmeras de segurança da unidade. Eles também denunciam que agentes mascarados e armados fazem incursões semanais nos pavilhões — uma prática totalmente fora dos manuais da SAP.

Governo contesta e tenta barrar decisão

A Procuradoria Geral do Estado alega que a liminar original, que determinava a criação do órgão de combate à tortura, segue suspensa por decisão do Tribunal Regional Federal da 3ª Região. Para a gestão Tarcísio, a criação desses mecanismos estaduais não pode ser imposta judicialmente.

Apesar disso, a juíza Luciana Ortiz manteve os prazos, que só começarão a contar após o julgamento final do processo. Para ela, o descumprimento das obrigações internacionais por parte do estado já ultrapassou os limites do tolerável.

Com os holofotes agora voltados para o sistema carcerário paulista, resta saber se a Justiça conseguirá romper a blindagem de um sistema que, segundo os relatos, parece tratar a dignidade humana como um detalhe incômodo.

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