
Lobista ligado a emendas repassou dinheiro a autoridade com foro privilegiado, aponta investigação
Operação Overclean revela que Gustavo Sobral, suspeito de articular emendas nos ministérios, movimentou valores suspeitos com pessoas do alto escalão da Justiça, segundo relatório do Coaf
Apontado como peça central num esquema milionário de desvio de verbas públicas, o lobista Gustavo Mascarenhas Sobral está no centro das investigações da Polícia Federal que envolvem emendas parlamentares e contratos suspeitos com o governo federal. Em 2022, ele fez uma transação considerada suspeita com uma pessoa que tem foro privilegiado, de acordo com um relatório sigiloso do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras).
A revelação veio à tona durante a terceira fase da Operação Overclean, deflagrada na última quinta-feira (3/4). Segundo a PF, Sobral atuava como intermediário na liberação de emendas nos Ministérios da Integração e Desenvolvimento Regional, e da Agricultura, com o objetivo de favorecer empresas específicas, como a Allpha Pavimentações.
O ministro Kassio Nunes Marques, do STF, autorizou essa nova etapa da operação e mencionou na decisão que, entre as diversas transações suspeitas identificadas, havia uma movimentação financeira feita por Sobral para uma pessoa com prerrogativa de foro no STF ou STJ.
Além disso, o Coaf chamou atenção para o volume e o padrão das movimentações financeiras de Sobral, que destoavam completamente do perfil econômico que ele declarava. Os depósitos fracionados e o alto valor movimentado aumentaram ainda mais as suspeitas.
A Polícia Federal descreve Sobral como um elo-chave da organização criminosa, atuando diretamente na liberação de recursos para empresas dos irmãos Alex e Fábio Parente, incluindo contratos que somam milhões de reais em obras.
Entre os nomes citados na investigação também está José Marcos de Moura, apelidado de “Rei do Lixo” na Bahia. Integrante da cúpula nacional do União Brasil, ele chegou a ser preso e libertado durante a operação. Moura movimentou R$ 80 milhões em transações suspeitas, sendo R$ 435 mil repassados a uma pessoa com foro privilegiado.
Documentos apreendidos com Alex Parente e Lucas Lobão, ex-coordenador do DNOCS na Bahia, mostram contratos no valor de R$ 11 milhões, supostamente ligados a Sobral, em municípios do interior paulista. Esses contratos apareceram numa planilha considerada pela PF como uma espécie de “contabilidade paralela” do grupo investigado.
A Operação Overclean começou investigando um contrato do DNOCS, mas, conforme os investigadores avançaram com quebras de sigilo e escutas ambientais, descobriram uma teia muito maior de empresas e políticos envolvidos.
O caso gerou desconforto nos bastidores de Brasília, especialmente por envolver parlamentares que apadrinharam emendas suspeitas. Uma menção ao deputado Elmar Nascimento (União Brasil) fez o processo sair da Justiça Federal de primeira instância e subir para o STF. Ao todo, ao menos cinco integrantes da alta cúpula do União Brasil aparecem na mira da PF.
Na primeira fase da operação, realizada em dezembro de 2024, os irmãos Alex e Fábio Parente já haviam sido alvo de busca e apreensão. Durante a ação da semana passada, a PF encontrou R$ 50 mil em espécie com Fábio Parente. As empresas dos irmãos assinaram contratos que somam cerca de R$ 130 milhões entre 2021 e 2024, dos quais R$ 67 milhões foram pagos diretamente via DNOCS.
A cada nova etapa, a Overclean escancara a profundidade de um esquema que mistura obras públicas, dinheiro sujo e influência política de alto escalão.
Se quiser, posso transformar essa reescrita também em um carrossel para redes sociais ou adaptar para outro formato. É só avisar!