
Lula Corre para Apagar Incêndio do IOF e Se Reúne às Pressas com Motta e Alcolumbre
Encontros fora da agenda revelam tensão nos bastidores em meio à crise do imposto e insatisfação no Congresso
No meio da turbulência provocada pela crise do IOF, o presidente Lula resolveu agir nos bastidores. No último domingo (25/5), ele recebeu, de forma discreta e fora da agenda oficial, dois pesos pesados do Congresso: Hugo Motta (Republicanos-PB), presidente da Câmara, e Davi Alcolumbre (União-AP), presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado.
Os encontros aconteceram no Palácio da Alvorada, residência oficial da presidência, e cada um em seu horário. Primeiro, Lula recebeu Motta para um almoço. Mais tarde, no final da tarde, foi a vez de Alcolumbre sentar para conversar.
De acordo com interlocutores do governo, na conversa com Motta, Lula tentou esclarecer que as mudanças no Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) tiveram seu aval pessoal. A ideia era acalmar os ânimos e evitar que a crise se agravasse.
Só que a estratégia não funcionou tão bem assim. Poucas horas depois do almoço, Motta foi às redes sociais, sem citar diretamente o IOF, mas mandando um recado claro: “O Brasil não precisa de mais imposto”. Uma indireta certeira para o governo.
Segundo aliados, a cutucada de Motta foi uma reação direta à entrevista do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, publicada no mesmo dia pelo jornal O Globo. Nela, Haddad lamentou o que chamou de “quase parlamentarismo” no Brasil, sugerindo que o Congresso tem hoje mais poder do que deveria sobre as decisões fiscais.
“Desde 2015, estamos com déficit estrutural. Queremos superar isso, mas depende mais do Congresso do que do Executivo. Hoje, vivemos um quase parlamentarismo. Quem dá a última palavra é o Congresso. Antes, um veto presidencial era sagrado. Hoje se pergunta: ‘Vamos derrubar?’ E derruba”, desabafou Haddad.
O detalhe curioso é que, enquanto Lula corria para esfriar os ânimos, Haddad estava longe dali — em São Paulo — e só retornou a Brasília na segunda-feira (26). Ele ficou completamente fora das conversas com Motta e Alcolumbre.
Os bastidores políticos seguem em ebulição, com pressão vindo da oposição, do mercado financeiro e, agora, até de dentro da base aliada.