
Lula desembarca em Nice para falar de meio ambiente — e tenta surfar na onda verde da ONU
Presidente brasileiro participa de conferência global sobre os oceanos, mas o que está em jogo vai além da ecologia: clima, política internacional e a imagem de um Brasil que tenta se reposicionar como herói ambiental
Neste sábado (7), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou à cidade de Nice, na França, com um propósito nobre e estratégico: participar da 3ª Conferência da ONU sobre os Oceanos (Unoc3). O encontro global, que reúne líderes mundiais, cientistas e ativistas, discute o futuro dos oceanos — ou, como dizem por lá, o “pulmão azul” do planeta.
A conferência, organizada pela ONU, tem como norte o famoso ODS 14 da Agenda 2030: preservar os mares e usá-los com responsabilidade. Mas, como costuma acontecer nesses eventos, o debate vai muito além do discurso ecológico. Clima, biodiversidade, poluição e até os embates geopolíticos sobre pesca e extração de minerais do fundo do mar estão no cardápio.
Julian Barbière, da Unesco, deixou claro o tamanho do desafio: os oceanos estão doentes. Temperaturas subindo, lixo tomando conta, espécies ameaçadas e países disputando cada gota de riqueza escondida sob as águas. Apesar disso, segundo ele, ainda há esperança — se os países colocarem a mão no bolso e no problema.
Lula, que busca reforçar sua imagem de defensor do meio ambiente (especialmente depois de polêmicas envolvendo exploração de petróleo na foz do Amazonas), compartilha o palco com outros chefes de Estado e representantes de ONGs em um esforço coletivo para provar que salvar os oceanos também é salvar a si mesmo.
As edições anteriores da conferência aconteceram em Nova York (2017) e Lisboa (2022), e trouxeram avanços importantes. Mas, como sempre, o buraco é mais embaixo: não adianta assinar acordos sem garantir verba, fiscalização e vontade política para tirar as promessas do papel.
Enquanto isso, Lula navega em águas internacionais com o discurso afinado e o objetivo de mostrar que o Brasil voltou ao jogo — pelo menos no palco diplomático. Resta saber se a maré da boa vontade ecológica será suficiente para compensar os tropeços em terra firme.