Lula desembarca na França e busca reconstruir pontes após anos de afastamento

Lula desembarca na França e busca reconstruir pontes após anos de afastamento

Primeira visita de Estado de um presidente brasileiro em 13 anos inclui encontros com Macron, debates sobre clima, economia e até uma homenagem histórica da Academia Francesa

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou nesta quarta-feira (4) à França, dando início à primeira visita de Estado de um líder brasileiro ao país em mais de uma década. A viagem tem um claro objetivo: reforçar os laços diplomáticos e comerciais com os franceses, além de discutir temas quentes do cenário global, como os conflitos na Ucrânia e na Faixa de Gaza.

Em suas redes sociais, Lula contou que viajou a Paris a convite do presidente Emmanuel Macron. Ao lado da primeira-dama, Janja, o petista foi recebido ainda na pista de pouso pelo ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Noël Barrot.

A programação oficial começa nesta quinta-feira (5) com uma cerimônia no icônico Palácio dos Inválidos, seguida de um almoço de trabalho e, à noite, um elegante banquete no Palácio do Eliseu, sede do governo francês.

Reaproximação após anos de distanciamento

A relação entre Brasil e França já foi muito mais calorosa. Em 2006, durante os governos de Lula e Jacques Chirac, os dois países firmaram uma parceria estratégica. No entanto, esse vínculo perdeu força a partir de 2016 e esfriou de vez nos tempos do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Com a volta de Lula ao Planalto, o clima voltou a esquentar. Em março de 2024, foi a vez de Macron visitar o Brasil, percorrendo a Amazônia e até um estaleiro onde são construídos submarinos da classe Scorpène, fruto da cooperação entre os países.

Agora, a visita de Lula à França é mais um passo nesse processo de reconexão. Segundo o próprio presidente postou no X (antigo Twitter), estão na mesa acordos nas áreas de meio ambiente, defesa, tecnologia, energia e saúde. Lula também participará do Fórum Econômico França-Brasil e da Conferência dos Oceanos da ONU, que começa na segunda-feira em Nice.

Uma homenagem que entra para a história

Além da intensa agenda política e econômica, Lula deve ser agraciado com uma honraria que poucos no mundo receberam. A Academia Francesa, equivalente à Academia Brasileira de Letras, fará uma sessão solene em sua homenagem.

É algo raríssimo. Desde 1635, quando foi fundada, apenas 19 chefes de Estado foram reconhecidos dessa forma. Lula será o segundo brasileiro a receber essa distinção — o primeiro foi Dom Pedro II, lá em 1872.

A proposta da homenagem partiu do atual secretário perpétuo da instituição, o escritor Amin Maalouf. Criada pelo cardeal Richelieu, a Academia tem hoje como patrono o próprio presidente Emmanuel Macron e é formada por 40 imortais, assim como a sua irmã brasileira, fundada por Machado de Assis.

Agricultores fazem pressão contra acordo com o Mercosul

Mas nem tudo são flores nessa visita. Enquanto Lula desembarcava em solo francês, agricultores e parlamentares protestavam, pressionando Macron a não ceder no acordo comercial entre União Europeia e Mercosul.

A França lidera o grupo que resiste à assinatura do pacto, e os produtores rurais são os mais resistentes. Eles temem que o acordo abra demais o mercado para produtos como carne, soja, açúcar e mel vindos do Brasil e de outros países sul-americanos.

— Ainda há tempo de dizer não, e é agora que devemos fazer isso. A visita do presidente Lula não pode mudar essa posição — afirmou Jean-François Guihard, presidente da associação francesa de criadores de bovinos e ovinos.

O setor agropecuário francês defende que, se o acordo sair do papel, os produtos do Mercosul devem seguir as mesmas regras rígidas de produção que valem na Europa — principalmente no quesito ambiental.

Pelo lado econômico, o acordo facilitaria para a União Europeia vender automóveis, máquinas e medicamentos, enquanto os países do Mercosul ampliariam suas exportações de produtos agrícolas.

Compartilhe nas suas redes sociais
Categorias
Tags