Lula e Líder Indígena Trocam Farpas em Evento de Repatriação do Manto Tupinambá

Lula e Líder Indígena Trocam Farpas em Evento de Repatriação do Manto Tupinambá

Líder indígena Baiana afirma  que Brasil tem ‘pior congresso’ e ‘judiciário parcial’

A cerimônia de repatriação do Manto Tupinambá, realizada na noite de quinta-feira, 12 de setembro de 2024, no Museu Nacional do Rio de Janeiro, foi marcada por uma troca de farpas entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e lideranças indígenas. O evento, que celebrou o retorno da peça sagrada após mais de 300 anos no Museu Nacional da Dinamarca, tornou-se palco de uma acirrada disputa política e emocional.

O presidente Lula usou o evento para rebater um manifesto assinado por 23 aldeias da Bahia, que expressava descontentamento com a maneira como o governo tem conduzido as questões indígenas. O manifesto critica a atuação do governo federal, além de apontar o Congresso Nacional e o Judiciário como responsáveis pela aprovação da polêmica lei do marco temporal. Lula, em tom contundente, respondeu às críticas: “Se eu tivesse o poder que pensam que eu tenho, não estaria aqui comemorando um manto. Estaria celebrando a vida dos milhões de indígenas que foram mortos por colonizadores europeus”, disse o presidente, mirando sua resposta na liderança indígena Yakuy Tupinambá.

Yakuy, uma respeitada anciã de Olivença, na Bahia, aproveitou seu discurso para quebrar o protocolo e ler o manifesto na íntegra, desafiando o tempo limite estipulado. Com uma atitude firme e desafiadora, a líder indígena criticou duramente o governo: “Estamos diante do pior Congresso da história, de um Judiciário egocêntrico e parcial, e um governo enfraquecido por alianças e conchavos para se manter no poder. O Estado brasileiro tem dilacerado nossos direitos e atacado a nossa crença e fé”, afirmou Yakuy, chamando Lula de “filho da dona Lindu”, em referência à sua mãe, Eurídice Ferreira de Mello.

A tensão aumentou quando Lula fez seu discurso final, destacando o agradecimento ao governo da Dinamarca pela devolução do manto e exigiu que o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, do PT, criasse um espaço apropriado para a peça no estado dos Tupinambás. “Eu só queria que a companheira que falou aqui mudasse o seu discurso. Não precisamos de subserviência para manter o poder. Meu partido tem uma significativa representação no Congresso, e para aprovar as coisas, preciso dialogar com quem não gosta de mim”, disparou Lula.

A disputa reflete a crescente insatisfação entre os povos indígenas com a administração atual, que, segundo eles, não tem cumprido as promessas feitas durante a posse presidencial. Desde a redução das atribuições das pastas de Meio Ambiente e Povos Indígenas, até o descumprimento da promessa de demarcação de terras, os líderes indígenas têm demonstrado uma crescente frustração com a atual gestão.

A cerimônia, marcada pelo retorno simbólico e controverso do Manto Tupinambá, ilustra a profunda divisão e as tensões persistentes nas relações entre o governo e os povos indígenas, revelando a complexidade e a intensidade dos desafios enfrentados no campo das políticas indigenist

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