Lula presta última homenagem a Pepe Mujica no Uruguai: “Exemplo de dignidade e coragem”
Velório foi estendido para permitir a presença do presidente brasileiro, que retornava de viagem à China e Rússia; Mujica será cremado com honras e deixará suas cinzas ao lado da cadela Manuela.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarcou nesta quinta-feira (15) em Montevidéu, capital do Uruguai, para participar do velório do ex-presidente uruguaio José “Pepe” Mujica. A despedida, que inicialmente terminaria às 15h, teve seu horário prolongado até as 17h (horário local e de Brasília) para aguardar a chegada de Lula, que havia retornado recentemente de compromissos oficiais na Rússia e na China.
A cerimônia acontece no prédio do Parlamento uruguaio e conta com honras de Estado. Mujica, figura emblemática da política latino-americana, morreu na última terça-feira (13), aos 89 anos, em decorrência de um câncer no esôfago.
Lula compareceu ao velório acompanhado de uma comitiva que inclui o ministro Márcio Macêdo (Secretaria-Geral da Presidência), o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, o senador Humberto Costa (PT-PE), e os deputados federais Guilherme Boulos (PSOL-SP) e Jandira Feghali (PCdoB-RJ).
A amizade entre Lula e Mujica era profunda e marcada por afinidades políticas e pessoais. Em entrevista à imprensa durante sua passagem pela China, Lula se emocionou ao falar sobre o amigo:
“Pepe era uma daquelas figuras que, se não tivesse nascido, o mundo precisaria dar um jeito de fazê-lo nascer. Um ser humano raro, com coragem, dignidade, solidariedade. Ele foi e continuará sendo uma referência para a democracia e para todos os que lutam por justiça.”
O corpo de Mujica será cremado, e suas cinzas ficarão na chácara onde ele viveu, em Rincón del Cerro, ao lado do túmulo de sua cadela Manuela, sua companheira fiel por 22 anos.
“Conheço muitos políticos, muitos presidentes. Mas ninguém com a alma e a grandeza do Pepe Mujica”, completou Lula, ao confirmar sua ida ao velório.
Um legado de simplicidade e luta
Presidente do Uruguai entre 2010 e 2015, Mujica ficou conhecido mundialmente por seu estilo de vida modesto — morava em uma casa simples, dirigia um Fusca e doava grande parte do salário. Ele também entrou para a história como líder de avanços sociais no país, como a legalização da maconha, o aborto e a adoção por casais homoafetivos.
Antes da política institucional, Mujica integrou o grupo guerrilheiro Tupamaros e passou anos preso sob a ditadura militar uruguaia (1973–1985), inclusive sendo feito refém do regime.
Em 2024, ele foi homenageado pelo Brasil com a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul — a mais alta honraria concedida a estrangeiros pelo governo brasileiro. Reconhecido internacionalmente, Mujica também recebeu títulos de doutor honoris causa por diversas universidades, entre elas a UFPel e a Unipampa.
“A gente não escolhe a mãe nem o irmão, mas escolhe os companheiros. E Mujica foi um dos maiores companheiros que a vida me deu”, disse Lula, emocionado.
