
Lula Puxa a Orelha de Vaias em Mariana: “Não Se Convida Alguém Pra Ser Maltratado”
Durante anúncio de medidas do Novo Acordo do Rio Doce, presidente repreende protestos contra o prefeito local e reforça que liberdade de expressão não é sinônimo de desrespeit
Durante sua visita a Mariana (MG), nesta quarta-feira (12), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva interrompeu o discurso para dar um puxão de orelha no público que vaiava o prefeito da cidade, Juliano Duarte (PSB). Lula, que estava na cidade para anunciar investimentos relacionados ao Novo Acordo do Rio Doce, defendeu o direito de fala, mas cobrou respeito.
“Depois que acabar esse evento, cada um pode falar o que quiser. Mas aqui, agora, o prefeito é nosso convidado. Não faz sentido o presidente da República vir a um lugar, convidar uma autoridade local, e ela ser recebida com hostilidade. Ninguém chama alguém pra sua casa pra tratar mal”, afirmou Lula, visivelmente contrariado.
O presidente também ressaltou que o evento tinha caráter institucional e pediu maturidade ao público presente. “Isso não é censura. Isso é responsabilidade. Liberdade de expressão não é licença para desrespeitar os outros”, completou.
Tragédia e reparação
A visita de Lula marcou o anúncio das primeiras ações práticas do Novo Acordo do Rio Doce — documento que reorganiza e amplia as medidas de reparação pelo desastre da barragem de Fundão, ocorrido em 2015. O rompimento matou 19 pessoas, desalojou centenas de famílias e afetou aproximadamente 50 municípios em Minas Gerais e no Espírito Santo.
O novo acordo foi assinado em outubro de 2024 por representantes da União, dos estados atingidos, dos Ministérios e Defensorias Públicas, além das mineradoras Samarco, Vale e BHP. Aprovado por unanimidade no STF um mês depois, o pacto substitui o antigo Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) de 2016, considerado ineficaz até aqui.
R$ 132 bilhões em reparação
Com o novo compromisso, as empresas envolvidas terão que investir um total de R$ 132 bilhões. Deste montante, R$ 100 bilhões serão geridos diretamente pelo poder público e R$ 32 bilhões ficarão a cargo das próprias mineradoras, que devem executar ações previstas.
Os recursos irão para áreas fundamentais como saúde, meio ambiente, infraestrutura, saneamento, geração de renda, previdência, economia e justiça para os atingidos — com prioridade na reconstrução e dignidade dos territórios devastados.
O gesto de Lula, ao repreender as vaias, veio num momento simbólico. O presidente tentou transformar um evento de enfrentamento político em um espaço de reconstrução e respeito — algo que, segundo ele, é o mínimo diante da dor deixada pelo maior desastre socioambiental do Brasil.