Lula usa residência oficial para gravações eleitorais: mais uma vez o limite entre público e privado é borrado
Parece que, para Lula, o uso dos espaços públicos não tem mais limites, nem mesmo quando o objetivo é promover candidatos alinhados ao seu projeto político. Na manhã desta quinta-feira (10), o presidente se dedicou a gravar vídeos de campanha para 17 candidatos que têm o apoio do PT no segundo turno das eleições municipais. O local escolhido? A Granja do Torto, uma das residências oficiais da Presidência, em Brasília. Não bastasse isso, Lula fez questão de apostar suas fichas em Guilherme Boulos, do PSOL, sua “grande esperança” nesta eleição.
Ainda que alguns especialistas, como o advogado Cristiano Vilela, tentem minimizar o uso da Granja do Torto com o argumento de que é um “espaço residencial”, é difícil ignorar o desconforto. O uso de uma residência oficial para gravações políticas deixa clara a falta de distinção entre o que é privado e o que é público, uma confusão que se arrasta desde outros governos e que deveria ser, no mínimo, repensada.
A própria Justiça Eleitoral, embora tenha estipulado que essas residências podem ser usadas para eventos como lives, desde que o ambiente seja neutro e restrito à figura do ocupante do cargo, parece estar fechando os olhos para o uso mais político e estratégico desses espaços. Será que o critério de “neutralidade” foi observado nas gravações feitas por Lula com Boulos, ou Natália Bonavides, candidata à prefeitura de Natal? Ou o que vemos aqui é mais uma amostra da velha prática de utilizar a máquina pública em benefício de interesses eleitorais?
Enquanto o PT se organiza para o segundo turno, com reuniões e articulações estratégicas, é inevitável questionar o quão transparente e justa é essa movimentação. O partido busca consolidar seu poder para 2026, e, no meio disso, o uso de espaços públicos para tais atividades só reforça a impressão de que as regras são sempre moldadas para beneficiar quem está no poder.
Compartilhar o poder com aliados é uma coisa, mas transformar espaços oficiais em palanques eleitorais? Isso é desrespeitar o eleitorado e usar recursos que pertencem a todos os brasileiros em nome de um projeto de poder que deveria, no mínimo, ser discutido em termos mais éticos.