
Luxo que cega: Itaipu banca hotel milionário para elite da COP30 enquanto Belém afunda no abandono
Sob a bênção do STF e longe dos olhos do TCU, governo usa dinheiro da usina para erguer hotel cinco estrelas em Belém — cidade marcada pela falta de saneamento e desigualdade. R$ 200 milhões em conforto para chefes de Estado, enquanto a população luta por água potável.
Enquanto milhares de brasileiros vivem sem água encanada, esgoto tratado ou dignidade básica, o governo federal encontrou prioridade em outro lugar: bancar um hotel cinco estrelas com dinheiro público para abrigar chefes de Estado durante a COP30, em Belém (PA). A conta? Quase R$ 200 milhões, pagos pela Itaipu Binacional, sob a justificativa de um “legado socioambiental”.
O luxuoso projeto, batizado de Vila COP-30, ficará ao lado do Parque da Cidade, com localização estratégica e acesso direto à área VIP do evento. Serão 500 suítes de alto padrão erguidas com recursos que, em tese, deveriam fortalecer o setor energético e a infraestrutura nacional. Mas, na prática, servem agora para garantir conforto internacional por no máximo duas semanas de conferência.
O investimento, promovido como um símbolo de sustentabilidade pela primeira-dama Janja, foge da lupa do Tribunal de Contas da União (TCU) graças a um parecer do Supremo Tribunal Federal, que isentou a Itaipu de prestar contas detalhadas à sociedade. Em vez disso, a responsabilidade foi entregue a um comitê Brasil-Paraguai que nunca saiu do papel.
Com isso, contratos bilionários seguem sendo firmados às escuras. Itaipu, que nasceu para gerar energia, virou cofre político de luxo, sem transparência ou controle efetivo. Um Estado paralelo dentro do próprio Estado.
O caso também escancara as contradições do discurso ambiental. A Vila dos Líderes será levantada em uma cidade que sofre com alagamentos, infraestrutura precária e onde quase metade da população vive sem saneamento básico. Mesmo assim, o governo aposta em aparências, e não em urgências.
“Esse hotel vai ser um legado para a cidade”, garantiu Valter Correia, secretário da COP30. Mas para muitos moradores de Belém, o verdadeiro legado será a lembrança de um governo que preferiu construir um palácio passageiro para estrangeiros, ao invés de garantir o básico para quem vive ali todos os dias.