
Mais de metade de Gaza está sob controle militar de Israel após retomada da guerra
Exército amplia zona tampão, transforma bairros em ruínas e gera denúncias de limpeza étnica
Israel reforçou sua presença na Faixa de Gaza de forma agressiva desde que retomou os ataques contra o Hamas no mês passado. Hoje, mais da metade do território está sob ocupação militar. Segundo soldados israelenses e organizações de direitos humanos, o exército destruiu casas, fazendas e estruturas inteiras para criar uma extensa zona tampão ao longo da fronteira. O objetivo declarado: pressionar o Hamas a libertar reféns ainda em cativeiro.
Mas o que é apresentado como medida temporária levanta suspeitas de um plano de controle duradouro, especialmente com a construção de corredores que dividem Gaza ao meio e ameaçam isolar ainda mais os palestinos.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, foi direto: mesmo com o Hamas derrotado, Israel manterá o domínio sobre a segurança no território. Ele ainda defendeu o que chama de “emigração voluntária” dos palestinos — um eufemismo que, para organizações internacionais, escancara uma política de limpeza étnica.
A destruição é metódica. Relatos de soldados colhidos pelo grupo israelense Breaking The Silence e pela AP descrevem operações planejadas para tornar inabitáveis grandes áreas: canos de irrigação, plantações, casas e até fábricas foram demolidos. “Eles não terão nada para onde voltar”, resumiu um soldado, sob anonimato. A faixa virou uma terra arrasada — e, para muitos, a intenção é que permaneça assim.
A chamada “zona de morte” — onde qualquer pessoa que se aproxima pode ser alvejada — tem relatos de vítimas civis, inclusive mulheres e crianças. A Human Rights Watch alerta que o deslocamento forçado e a destruição permanente de comunidades podem configurar crimes de guerra.
Satélites confirmam: bairros inteiros viraram escombros. Fazendas que alimentavam Gaza foram pulverizadas. Ao menos uma dúzia de postos militares surgiram no local, consolidando a ocupação.
Enquanto o mundo observa, Israel avança, pedra por pedra, sobre o que restou de Gaza. E para os que viviam lá, como o agricultor Nidal Alzaanin, resta apenas a memória do que um dia foi lar. “Levei 20 anos para construir tudo. Em cinco minutos, destruíram os sonhos meus e dos meus filhos”, lamenta ele, agora abrigado em ruínas.