MEC compra livro com sexo explícito para escolas públicas; obra foi aprovada em 2022
Capa de “O Avesso da Pele” parte do catálogo do MEC, apesar de conteúdo explícito.
O Ministério da Educação está entregando a escolas públicas um livro com trechos de sexo explícito.
“O Avesso da Pele”, de Jeferson Tenório, foi incluído pela pasta no PNLD, o Programa Nacional do Livro e do Material Didático. Por meio dele, o MEC adquire obras literárias para distribuí-las às escolas que solicitarem.
A obra passou a fazer parte do PNLD em setembro de 2022, ainda durante o governo Bolsonaro. A portaria que aprovou “O Avesso da Pele” e outros 530 de livros foi assinada por Gilson Passos de Oliveira, da Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação. O livro de Tenório aparece na categoria “Ensino Médio”.
O assunto só veio à tona agora, depois que a diretora em uma escola de Santa Cruz do Sul (RS), Janaina Venzon, denunciou o conteúdo do livro em sua página no Instagram. Ela exibiu duas passagens do livro que têm linguagem explícita e conteúdo sexual, e afirmou que o MEC enviou 200 cópias da obra para a escola onde trabalha.
Um dos trechos mostrados pela professora faz uma referência explícita ao tamanho da genitália masculina.
Outra passagem se refere ao órgão sexual masculino usando um termo chulos, e também usa uma expressão vulgar para a genitália feminina. O trecho descreve uma relação sexual: “Vem, minha branquinha. Vem, meu negão. Chupa a tua branquinha. Chupa o teu nego. Adoro a tua pele branquinha. Adoro a tua pele, meu nego. Adoro tua b… branca. Adoro teu p… preto”.
Trechos explícitos e palavrões
A Gazeta do Povo confirmou que os trechos mostrados por Janaina Venzon de fato fazem parte do livro incluído no PNLD, e também encontrou outras passagens com conteúdo adulto.
O livro de Jeferson Tenório tem mais de cinquenta trechos com palavrões ou termos que costumam ser considerados inapropriados para adolescentes. O livro também inclui diversas referências a relações sexuais do próprio protagonista e dos pais dele. Os termos foram censurados nesta reportagem, mas aparecem com todas as letras na obra adquirida pelo MEC.
Um trecho do livro enfileira grosserias de forma gratuita: “Pegando uma lata de cerveja, ele deu uma boa olhada na minha mãe e perguntou onde ela havia aprendido aquilo. Aprendido o quê?, ela quis saber. Aprendido a trepar como uma p…, ele disse. Porque nunca vi uma moça virgem gemer daquele jeito na cama, mexer daquele jeito, onde você aprendeu isso, sua piranha?”.
Outra passagem descreve uma relação sexual forçada entre adolescentes: “Você lembra da primeira vez que a beijou e teve vontade de vomitar cada vez que sentia a língua dela entrando na sua boca. Você não entendia por que um beijo tinha que ser daquele jeito. Depois ela mandava você baixar a bermuda porque queria beijar o seu p… e você dizia que não queria, e a prima Violeta te ameaçava dizendo que podia inventar uma série de coisas a seu respeito.”
A obra também tem referências diretas ao consumo de drogas. “Alguns iam nadar no rio, outros na cachoeira, e havia ainda os que buscavam diversão num baseado ou em cocaína”, afirma uma das passagens.
“O Avesso da Pele” tem como pano de fundo a discriminação contra os negros. A editora Companhia das Letras descreve o livro como “um romance sobre identidade e as complexas relações raciais, sobre violência e negritude”. No fim da história, o pai do protagonista é executado injustamente pela polícia.
A obra venceu a categoria “Romance Literário” do Prêmio Jabuti em 2021
MEC se exime de culpa
O Ministério da Educação divulgou neste sábado um comunicado sobre o caso. Ao mesmo tempo em que atribuiu à escolha da obra ao governo anterior, a pasta afirmou que o conteúdo dos livros incluídos no PNLD, inclusive “O Avesso da Pele”, é previamente avaliado por especialistas. “A aquisição das obras se dá por meio de um chamamento público, de forma isonômica e transparente. Essas obras são avaliadas por professores, mestres e doutores, que tenham se inscrito no banco de avaliadores do MEC”, afirmou o ministério.
O texto afirma ainda que “os livros aprovados passam a compor um catálogo no qual as escolas podem escolher, de forma democrática, os materiais que mais se adequam à sua realidade pedagógica”.
O Ministério da Educação diz que o MEC só entrega as obras às escolas que fazem uma solicitação formal.
Entretanto, a diretora Janaina Venzon afirmou que não solicitou o livro para a escola onde é diretora. “Se for comprovado que a coordenação pedagógica não fez o pedido por indicação de um professor, estaremos levando o caso para o Ministério Público”, ela escreveu neste sábado, em sua página no Instagram.
FONTE: Revista Oeste