
Mentiras, perfis falsos e reviravoltas: Mauro Cid volta à mira da PF e Bolsonaro clama por anulação da delação
Após ser acusado de tentar fugir do Brasil, tenente-coronel é alvo de reportagem que aponta mentiras em depoimento ao STF; defesa reage, chama matéria de falsa e ex-presidente diz que processo é “vingança política”
A sexta-feira começou com mais um capítulo turbulento envolvendo Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro. Depois de prestar depoimento no início da semana sobre a tentativa de impedir a posse de Lula, o tenente-coronel foi surpreendido nesta manhã por um mandado de prisão autorizado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), acusado de tentar deixar o país com ajuda de aliados. Ao mesmo tempo, virou alvo de uma reportagem da revista Veja, que o acusa de mentir durante seu depoimento.
Segundo a publicação, Cid teria usado um perfil falso no Instagram — “@gabrielar702” — para burlar a proibição de usar redes sociais, determinada por Alexandre de Moraes, e conversar com aliados sobre os bastidores das investigações do 8 de janeiro. As mensagens, divulgadas nesta quinta (12), mostram o que seriam críticas diretas ao STF e aos investigadores. Em uma delas, Cid teria dito que Moraes “já tem a sentença pronta” para ele, Bolsonaro e outros militares, e que “Barroso é o pensador, mas quem executa é o AM”.
As supostas mensagens também mencionam frustração com o processo, críticas à falta de provas e apostas em figuras como Rodrigo Pacheco e Arthur Lira para evitar prisões. Em outro trecho, Cid teria sugerido que uma vitória de Donald Trump poderia levar a sanções contra o Brasil, o que poderia mudar o cenário político nacional.
A Polícia Federal agora apura não apenas a tentativa de fuga, como também a autenticidade das conversas. A defesa de Cid nega veementemente que ele seja o autor das mensagens e afirma que a conta mencionada não pertence a ele, embora tenha o nome parecido com o da esposa, Gabriela. O advogado pediu que o STF investigue a origem do perfil e classificou a reportagem como “mentirosa”.
Em depoimento no próprio STF, Cid já havia sido questionado sobre o perfil. Sua resposta foi vaga: disse que não sabia se a conta era de sua esposa.
A situação acendeu um novo alerta para o ex-presidente Jair Bolsonaro, que usou as redes sociais nesta sexta para dizer que o caso revela a “farsa” por trás do processo no STF. Para ele, a suposta delação de Cid é parte de uma “caça às bruxas” e um “enredo fabricado” para perseguir adversários políticos.
“Não se constrói um país sobre mentiras, vingança e arbítrio. Esse processo político travestido de ação penal precisa parar antes que destrua de vez o Estado de Direito”, escreveu Bolsonaro.
Ele também pediu que a delação de Cid seja anulada e exigiu a soltura do general Braga Netto e de outros presos ligados aos atos de 8 de janeiro.
Enquanto isso, a PF continua ouvindo Cid sobre os dois pontos principais da crise: a tentativa de deixar o país em maio com passaporte português — supostamente com apoio de Gilson Machado, também preso hoje — e o conteúdo das mensagens trocadas pela conta atribuída a ele.
A nova onda de revelações deve reaquecer o debate político nos próximos dias, com repercussões diretas tanto no Judiciário quanto no Congresso, que, segundo as próprias mensagens atribuídas a Cid, seria a última esperança para barrar as investigações.