Mercado Avalia Pacote de Haddad com Desconfiança

Mercado Avalia Pacote de Haddad com Desconfiança

Corte de gastos tímido e mudanças no IR geram críticas; detalhes das medidas ainda são aguardados

A reação inicial de economistas e agentes do mercado ao pronunciamento de Fernando Haddad, Ministro da Fazenda, foi marcada por ceticismo. Em rede nacional, na noite desta quarta-feira (27), Haddad anunciou medidas para corte de gastos e mudanças na tabela do imposto de renda, mas o tom das críticas apontou para a “timidez” das propostas e a complexidade de implementar algumas delas.

Ainda que as medidas anunciadas demonstrem uma direção positiva, a ausência de detalhes concretos deixou analistas cautelosos. Esses esclarecimentos devem ser fornecidos na coletiva agendada para esta quinta-feira (28), com a participação de Haddad, Simone Tebet (Planejamento e Orçamento) e Rui Costa (Casa Civil).

Entre as medidas sinalizadas estão:

  • Limitar o crescimento real do salário mínimo em até 2,5% somados à inflação;
  • Ajustar o limite do abono salarial com base na inflação;
  • Alterar regras da aposentadoria militar, incluindo idade mínima para a reserva e restrições à transferência de pensões;
  • Implementar o teto constitucional para agentes públicos, eliminando os “supersalários”;
  • Direcionar metade das emendas de comissão para a saúde;
  • Intensificar o combate a fraudes no BPC (Benefício de Prestação Continuada).

Apesar de reconhecerem que essas medidas têm potencial, economistas questionam se elas serão suficientes para gerar uma economia de R$ 70 bilhões em dois anos, como o governo projeta. Há uma preocupação de que grande parte desse valor dependa do combate a fraudes, em vez de mudanças estruturais com efeitos duradouros.

O mercado também demonstrou desconforto com o momento escolhido para “casar” o anúncio de cortes de gastos com o aumento do limite de isenção do imposto de renda para R$ 5 mil mensais. Embora a medida beneficie boa parte da população, ela gera um impacto fiscal estimado em R$ 45 bilhões, cuja compensação envolveria tributar ganhos acima de R$ 50 mil por mês.

“Este não é o momento para medidas de custo elevado, ainda mais com compensações complexas de serem executadas”, afirmou Felipe Salto, economista-chefe da Warren Investimentos.

Os analistas destacam que o pacote segue na direção certa, mas que a eficácia dependerá da profundidade e clareza das ações, algo que só será melhor avaliado com os detalhes previstos para o dia seguinte.

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