
Mercado celebra fim de controles cambiais na Argentina, mas alerta para desafios inflacionários
Medida anunciada por Javier Milei é vista como passo importante para recuperação econômica, mas especialistas apontam pressões inflacionárias e necessidade de reformas estruturais.
O fim dos controles cambiais na Argentina, anunciado na última segunda-feira (14), foi recebido com entusiasmo em Wall Street, que enxerga a decisão como um marco crucial para a normalização econômica do país. Economistas veem a medida como essencial para atrair investimentos estrangeiros e acelerar o crescimento econômico. No entanto, há um alerta quanto às inevitáveis pressões inflacionárias no curto prazo e à necessidade de reformas estruturais para garantir um crescimento sustentável.
Ao longo do dia, o câmbio argentino passou por ajustes significativos. O dólar oficial e o dólar Banco Nación registraram alta de cerca de 12%, com valores de 1.233,36 pesos e 1.230,00 pesos, respectivamente. No mercado paralelo, o dólar blue caiu mais de 6%, para 1.285,00 pesos, conforme dados do jornal Ámbito Financiero. A partir de agora, a moeda argentina operará em bandas de 1.000 a 1.400 pesos, com ajustes mensais de cerca de 1%.
A medida foi tomada após o anúncio de um novo auxílio do Fundo Monetário Internacional (FMI), que injetará US$ 20 bilhões na economia argentina ao longo de quatro anos, com a previsão de desembolsos imediatos de US$ 12 bilhões. Esse socorro ocorre em um contexto de alta tensão política, com a greve geral paralisando o país e com a visita do secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, que também se reuniu com o presidente argentino, Javier Milei.
A expectativa é de que o peso argentino, ainda supervalorizado, precise passar por ajustes adicionais. Segundo a consultoria britânica Capital Economics, apesar das boas intenções da reforma cambial, o mercado precisará de medidas adicionais para enfraquecer a moeda e restaurar a competitividade externa do país.
O Morgan Stanley, por sua vez, avaliou a suspensão dos controles cambiais como positiva, especialmente no que tange à atração de investimentos, mas alertou para os impactos inflacionários de curto prazo. Já o Goldman Sachs vê os anúncios como um passo em direção à sustentabilidade do ajuste macroeconômico do governo de Milei, destacando que uma taxa de câmbio mais flexível é essencial para que o Banco Central acumule reservas de forma sustentável.
No Brasil, o BTG Pactual comparou a decisão argentina ao “Dia da Libertação”, uma alusão ao histórico discurso do ex-presidente Donald Trump. Contudo, o banco também ressaltou que, apesar do otimismo com as medidas, a inflação poderá continuar em alta até o segundo trimestre, afetando o crescimento no curto prazo.
Enquanto isso, o FMI projeta crescimento de 5,5% para a Argentina em 2025, seguido por 4,5% em 2026, e prevê uma inflação de 18% a 23% neste ano, com uma possível desaceleração para 10% a 15% no próximo. O apoio dos EUA às reformas econômicas de Milei foi reiterado por Bessent, que também destacou a importância do novo socorro do FMI e do Banco Mundial para estabilizar a economia argentina.
A situação segue em evolução, mas, para muitos, este é apenas o primeiro passo de uma longa jornada rumo à recuperação econômica.