
Mercado desiste de juros abaixo de 10% no governo Lula
Dúvidas sobre gastos públicos e cenário internacional frustram expectativas de redução da Selic
A esperança de que a taxa de juros caísse para menos de 10% ao ano durante o mandato de Lula se dissipou. Economistas agora preveem que a Selic, atualmente em 11,25%, só voltará a um dígito em 2027, bem depois do fim do atual governo. A mudança nas previsões é atribuída à deterioração das contas públicas, ao fortalecimento da economia e a incertezas globais, como a política monetária dos Estados Unidos.
O cenário de juros no Brasil: de otimismo à cautela
No início de 2023, com o terceiro mandato de Lula recém-iniciado, o mercado apostava que a Selic cairia para 9,25% em 2024. No entanto, essa previsão foi revisada após sucessivos sinais de descontrole fiscal e o impacto de políticas monetárias externas, especialmente nos EUA.
Recentemente, o mercado ajustou suas projeções, apontando que a taxa básica deverá subir para 11,75% na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). Alguns analistas consideram até um aumento maior, para 12%, em resposta ao aumento dos gastos públicos e à inflação acima das metas estipuladas.
Os fatores que impulsionaram a alta
De acordo com Alex Agostini, da Austin Rating, a principal causa para a piora das projeções é a expansão fiscal desenfreada, que desancorou expectativas de inflação. Além disso, o fortalecimento do dólar e a resistência do Federal Reserve em cortar juros complicaram ainda mais o cenário.
Outro ponto destacado pelo economista André Perfeito é a dificuldade do governo em comunicar e implementar cortes de gastos. Somado à vitória de Donald Trump nos EUA, que fortaleceu o dólar, a percepção de risco fiscal no Brasil aumentou, pressionando o real e a inflação.
Impactos e medidas do governo
Os juros elevados impactam diretamente o consumo, o crédito e o crescimento do emprego, mas também aumentam as despesas do setor público com o serviço da dívida. Para tentar aliviar a situação, o governo anunciou um pacote de cortes, incluindo mudanças no salário mínimo, abono salarial e aposentadorias. Apesar disso, medidas como a ampliação da isenção do Imposto de Renda têm gerado críticas por comprometerem ainda mais o orçamento.
Futuro incerto para metas de inflação
Com a meta de inflação fixada em 3% para 2024, o Banco Central precisará manter uma política austera para trazer os índices de volta ao controle. No entanto, a percepção de que o governo não conseguirá reduzir os gastos públicos de forma consistente mantém o mercado cético quanto a uma queda significativa dos juros nos próximos anos.
Conclusão: Enquanto o governo tenta equilibrar as contas públicas e a agenda social, o mercado financeiro permanece descrente de que a era de juros baixos voltará tão cedo.