
Milei desafia o mundo e vira o jogo na economia argentina
Visto como radical, presidente argentino surpreende com reformas duras, corte de gastos e resultados que mudam a imagem do país no cenário global
O presidente argentino Javier Milei, conhecido por seu estilo explosivo e ideias radicais, começa a colher os primeiros frutos de uma guinada histórica na economia do país. Alvo de desconfiança internacional no início de seu mandato, Milei agora vê sua agenda liberal ganhar respeito até mesmo entre críticos.
Desde que assumiu a presidência em dezembro de 2023, Milei partiu para um plano ousado: cortar gastos públicos, desmontar a máquina estatal e desburocratizar a economia. Ele mesmo se define como “anarcocapitalista”, com desprezo pelo papel do Estado, mas age como um “minarquista pragmático” — alguém que acredita num governo mínimo, mas eficiente.
Logo nos primeiros meses, eliminou metade dos ministérios, demitiu milhares de funcionários considerados “fantasmas” e iniciou um processo agressivo de desregulamentação. O que parecia impossível começou a acontecer: a inflação, que flertava com os 300% ao ano, caiu para 67% em fevereiro de 2025. A pobreza, que inicialmente subiu para 53%, já recuou para 38%, e o país conseguiu, pela primeira vez em mais de um século, zerar o déficit fiscal.
“Ele surpreendeu até os mais céticos. Ninguém achava que os cortes seriam tão rápidos e profundos”, comenta o economista Roberto Luís Troster.
Apesar da retórica inflamada e das brigas públicas com o Congresso, Milei soube ceder quando necessário. Costurou acordos políticos e conseguiu aprovar a “Lei de Emergência Econômica”, passo essencial para viabilizar parte de suas reformas. Para o economista Armando Castellar, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), o presidente mostrou mais habilidade política do que muitos imaginavam. “Ele está promovendo um ajuste nas contas públicas que poucos acreditavam ser possível.”
O reconhecimento já ultrapassa as fronteiras argentinas. Em abril, Milei entrou para a lista das 100 pessoas mais influentes do mundo, segundo a revista Time. Até o cientista político Ian Bremmer, antes crítico, admitiu surpresa com os avanços. A revista The Economist, que chegou a dedicar 20 páginas à análise de sua gestão, afirmou que “a profunda recessão está dando lugar a um crescimento sólido”.
A trajetória de Milei ainda é controversa, mas os resultados começam a falar mais alto do que as polêmicas. O que parecia uma aventura libertária virou, para muitos, uma revolução econômica inesperada.