Milei sobre Lula: “Qual o problema em chamá-lo de corrupto? Ele não foi preso?”
Lula tinha afirmado que não conversou com Milei, que segundo ele disse “muita bobagem” e deveria se desculpar
O presidente da Argentina, Javier Milei, questionou nesta sexta-feira (28) a necessidade de pedir desculpas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por tê-lo chamado de “corrupto” e “comunista” durante a campanha.
“Qual é o problema em chamá-lo de corrupto? Ele não foi preso por isso? E quanto a chamá-lo de comunista? Lula não é comunista? Desde quando se deve pedir desculpas por dizer a verdade? Estamos tão doentes de correção política que não se pode dizer nada à esquerda, mesmo quando é verdade?”, indagou Milei em entrevista ao canal La Nación +, quando perguntado se pediria desculpas a Lula.
Milei considerou que a exigência de desculpas ao presidente brasileiro é uma “discussão tão pequena, parece discussão de pré-adolescentes”. Ele reiterou que as afirmações feitas são verdadeiras.
“Precisamos nos colocar acima dessas insignificâncias, porque os interesses dos argentinos e dos brasileiros são mais importantes que o ego inflado de algum esquerdinha [‘zurdito’, em espanhol]”, afirmou.
Nesta semana, em entrevista ao UOL, Lula mencionou que não conversou com o presidente argentino porque ele falou “muita bobagem” e esperava um pedido de desculpas de Milei para ele e para o Brasil.
Milei comparou suas críticas a Lula com as trocadas com o presidente colombiano Gustavo Petro e o primeiro-ministro espanhol Pedro Sánchez, que retirou definitivamente sua embaixadora de Buenos Aires.
Quando o jornalista argumentou que as motivações não eram as mesmas, já que antes do insulto de Milei à esposa do espanhol, um ministro de Sánchez havia insinuado que o presidente argentino usou drogas durante a campanha, Milei rebateu dizendo que Lula “fez coisas parecidas (…) se envolvendo ativamente na nossa campanha eleitoral”.
“Você acha que a campanha negativa que [o ex-candidato Sergio] Massa fez contra mim, impulsionada pelo Brasil, não foi agressiva? (…) Vão me pedir desculpas pela quantidade de mentiras que disseram durante toda a campanha? Os que mentiram exigem que o outro peça perdão por dizer a verdade?”, questionou.
Milei referia-se aos marqueteiros do Partido dos Trabalhadores contratados pela campanha de Massa. Ele chegou a acusar os brasileiros de colocar pessoas para tossir na plateia durante o debate para desconcentrá-lo.
Esta é a primeira vez que Milei responde ao pedido de desculpas feito por Lula. Antes, quando questionado sobre o assunto, o porta-voz da Casa Rosada, Manuel Adorni, havia dito que o presidente argentino não fez nada do que deveria se arrepender.
Milei e Lula nunca tiveram uma reunião bilateral desde a posse de Milei em dezembro. Na ocasião, Lula enviou seu ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, para representá-lo. Na cerimônia, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), convidado por Milei, sentou-se em um lugar de destaque ao lado de outros presidentes presentes.
Em abril, Milei enviou uma carta informal através de sua chanceler, Diana Mondino, que se encontrou com Vieira em Brasília, propondo um encontro bilateral devido à importância das relações econômicas entre os países.
Lula nunca respondeu à carta e, por isso, a Argentina não solicitou uma reunião bilateral com o Brasil na Cúpula do Mercosul, que acontecerá no dia 8 de julho em Assunção. Será a primeira vez que ambos se encontrarão para discutir questões do bloco comercial.
Os dois presidentes se cruzaram na cúpula do G7, na Itália, mas apenas se cumprimentaram, sem nenhuma conversa bilateral, segundo a presidência argentina.