
No coração do Xingu, Lula promete priorizar os povos indígenas: “Ainda há muito a fazer”
Em encontro com o cacique Raoni e outras lideranças na aldeia Piaraçu, presidente reconhece lentidão nas entregas e reafirma compromisso com demarcações, diálogo e combate ao crime em terras indígenas.
Com o Xingu como cenário e a presença forte do cacique Raoni, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou nesta sexta-feira (4/4) de uma cerimônia na aldeia Piaraçu, em Mato Grosso. Em um discurso direto e simbólico, Lula admitiu que o governo ainda não entregou tudo o que prometeu aos povos indígenas — mas garantiu que a defesa dos direitos originários continua sendo uma prioridade absoluta.
“Sabemos que ainda há muito a ser feito”, reconheceu o presidente, ao lado de lideranças tradicionais. “Mas nosso governo tem trabalhado para garantir integralmente os direitos indígenas, demarcando e homologando terras, retirando invasores e combatendo o crime organizado que avança sobre esses territórios.”
O encontro com as comunidades indígenas teve um caráter mais que institucional. Lula entregou a medalha da Ordem Nacional do Mérito ao cacique Raoni Metuktire, uma das vozes mais respeitadas em defesa dos povos originários no Brasil. E ouviu, sem rodeios, cobranças duras sobre promessas não cumpridas.
Raoni, em sua fala, foi direto: “Já falei com o presidente. Disse a ele para não repetir os erros do passado. Algumas decisões me decepcionaram. Mas também disse que, daqui pra frente, é hora de acertar e fazer um trabalho do qual o povo possa se orgulhar”.
O cacique também pediu urgência na redefinição dos limites dos territórios Tapi Yawalapiti e Alto Xingu, cobrando do governo mais celeridade nas demarcações que foram prometidas desde os primeiros dias do novo mandato. Vale lembrar que, apesar da promessa inicial de Lula de demarcar 14 terras indígenas nos primeiros 100 dias de governo, apenas 13 foram oficializadas até agora — após mais de dois anos.
A fala de Lula refletiu esse cenário: “Às vezes, o tempo das instituições é mais lento do que o nosso desejo. Mas estamos olhando para o mesmo horizonte. O Brasil que queremos construir é aquele que respeita, protege e valoriza seus povos originários”.
Mesmo com os avanços pontuais, como algumas demarcações e ações contra o garimpo ilegal, o governo tem enfrentado críticas por parte de entidades indígenas, especialmente diante da crise humanitária na Terra Yanomami e da falta de ações mais incisivas em outras regiões.
Ainda assim, o encontro no Xingu foi mais do que simbólico: foi um lembrete — tanto para o governo quanto para o Brasil — de que os povos indígenas não estão esperando favores. Estão exigindo respeito, justiça e ação concreta.