
“O Golpe Invisível: Como Associações Falsas Sugaram Bilhões de Aposentados do INSS”
Fraude sistemática descontava mensalidades de benefícios sem autorização, com assinaturas forjadas e conivência de servidores. Esquema movimentou até R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024.
A Polícia Federal revelou um esquema fraudulento de proporções alarmantes que atingiu aposentados e pensionistas em todo o Brasil. Durante anos, associações de fachada se aproveitaram da fragilidade de beneficiários do INSS para realizar descontos ilegais em suas aposentadorias — tudo sem consentimento, e muitas vezes com assinaturas falsificadas.
Segundo a investigação, entre 2019 e 2024, o rombo pode ter chegado a R$ 6,3 bilhões. O presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, foi exonerado após uma operação que resultou no afastamento de servidores e na prisão de seis suspeitos ligados às entidades criminosas.
Como o esquema funcionava?
As associações criavam cadastros falsos em nome de aposentados, sem qualquer autorização. Com ajuda de servidores do próprio INSS, inseriam mensalidades indevidas diretamente nos contracheques. Em alguns casos, o mesmo beneficiário foi filiado a diferentes entidades no mesmo dia, com erros idênticos nas fichas, escancarando a farsa.
A liberação “em lote” de descontos — sem aval individual — foi o combustível para o crescimento da fraude.
Quem são os envolvidos?
Entre os suspeitos estão dirigentes de associações e servidores públicos, inclusive membros da alta cúpula do INSS. A Justiça afastou nomes como:
- Alessandro Stefanutto (ex-presidente do INSS)
- Virgílio Antônio Ribeiro (ex-procurador-geral do INSS)
- Giovani Fassarella Spiecker (coordenador de atendimento)
- Vanderlei Barbosa (diretor de benefícios)
- Jacimar Fonseca da Silva (pagamentos)
- Philipe Coutinho (policial federal)
O principal articulador seria Antonio Carlos Camilo Antunes, apelidado de “Careca do INSS”. Ele é apontado como o elo entre as entidades de fachada e o sistema de lavagem de dinheiro, movimentando R$ 24,5 milhões em cinco meses, com ramificações em 21 empresas e atuação direta em várias associações.
Onde o golpe mais atingiu?
A fraude se espalhou pelo país, com maior incidência no Nordeste, principalmente no Maranhão e no Piauí. Em algumas cidades, mais da metade dos aposentados estavam sendo explorados por meio de descontos não autorizados. A Controladoria-Geral da União (CGU) identificou filiações suspeitas de beneficiários que moravam a centenas de quilômetros de distância das sedes das associações.
O que foi apreendido?
Na operação batizada de “Sem Desconto”, a PF recolheu R$ 1,7 milhão em espécie, 61 carros de luxo avaliados em R$ 34,5 milhões, 141 joias e obras de arte — tudo supostamente adquirido com dinheiro das fraudes.
O que dizem o governo e a Previdência?
O governo Lula suspendeu todos os descontos associativos e prometeu devolver o que foi descontado de forma indevida. No entanto, uma reportagem da TV Globo revelou que o ministro da Previdência, Carlos Lupi, foi alertado sobre a explosão de descontos em 2023 — e só agiu quase um ano depois. Ele admitiu a demora, mas negou omissão.
O caso já levou à queda de dois presidentes do INSS durante o atual governo. A extensão do golpe ainda está sendo apurada, mas o impacto emocional e financeiro sobre os aposentados já é imensurável.