Paradoxo da Anistia: Metade das assinaturas por urgência vêm da base aliada de Lula

Paradoxo da Anistia: Metade das assinaturas por urgência vêm da base aliada de Lula

Mesmo com ministros no governo, deputados de partidos aliados ao Planalto apoiam urgência no projeto que tenta perdoar envolvidos nos ataques golpistas de 8 de janeiro

Um levantamento recente revelou um dado tão curioso quanto desconcertante: entre as 262 assinaturas reunidas para pedir urgência ao projeto de anistia dos atos golpistas de 8 de janeiro, 146 são de parlamentares pertencentes à base do governo Lula. Ou seja, mais da metade — 56% — do apoio vem justamente de partidos que, em tese, deveriam estar alinhados com o Executivo.

A proposta, protocolada pelo Partido Liberal (PL) na Câmara dos Deputados, foi impulsionada pelo deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), que se apressou em oficializar o requerimento após relatos de que o governo estaria tentando convencer parlamentares a retirarem suas assinaturas. “O governo não vai nos pegar de surpresa mais”, disse ele em nota.

Entre os signatários, destacam-se deputados do União Brasil (40), Progressistas (35), Republicanos (28), PSD (23) e MDB (20) — todos partidos que atualmente ocupam ministérios no governo Lula. A atitude expõe uma convivência política ambígua: são partidos que participam da administração, mas também apoiam, abertamente, uma pauta cara à oposição bolsonarista.

A expectativa de Sóstenes era aguardar até a semana seguinte para coletar mais assinaturas, mas diante das pressões do Planalto, resolveu mudar os planos e tornar o documento público imediatamente. Duas assinaturas foram invalidadas, mas o número restante (262) ainda supera com folga os 257 votos necessários para aprovação de um requerimento de urgência.

A proposta de anistia, que busca perdoar os responsáveis por invadir e depredar os prédios dos Três Poderes no episódio de 8 de janeiro de 2023, é uma das bandeiras prioritárias de Jair Bolsonaro. Ele mesmo deixou claro que não quer saber de redução de pena ou modulação das condenações: deseja uma “anistia ampla, geral e irrestrita”.

Em um encontro com advogados, o ex-presidente exaltou a fala de sua esposa Michelle em defesa da anistia, afirmando que o voto do ministro Luiz Fux, no julgamento que o tornou réu, abriu uma “fissura” que poderia dar novo fôlego à proposta.

Enquanto isso, Bolsonaro segue internado na UTI do hospital DF Star, em Brasília, após ser submetido a uma cirurgia por conta de uma obstrução intestinal. Apesar da situação de saúde, aliados garantem que a mobilização em torno do projeto não foi afetada.

Deputados próximos ao ex-presidente acreditam que o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), colocará o pedido de urgência em votação assim que ele for validado.

Mais do que uma disputa legislativa, o avanço desse projeto revela o jogo de bastidores entre a governabilidade e a conveniência política — em que o compromisso com a democracia, muitas vezes, é o primeiro a ser sacrificado.

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