
PDT pula fora da base de Lula após fritura de Lupi e racha expõe ferida no Congresso
Saída do ex-ministro da Previdência aprofundou o desgaste com o Planalto e empurrou o partido para a neutralidade — mas não sem mágoa nem ruído
O PDT bateu o martelo: não faz mais parte da base do governo Lula. A decisão veio nesta terça-feira (6), em resposta direta à demissão do ex-ministro da Previdência Carlos Lupi, figura histórica do partido e atualmente licenciado da presidência nacional da sigla.
A saída de Lupi, marcada por denúncias de fraudes no INSS, foi vista pelos pedetistas como uma espécie de “execução pública”. Para a bancada do partido na Câmara, o Planalto jogou o aliado às feras, sem direito a defesa, e ainda o substituiu por alguém que não tem nenhuma ligação com a legenda: o deputado Wolney Queiroz (PDT-PE), escolhido a dedo por Lula.
Apesar de ainda compartilhar parte da agenda social do governo, os 17 deputados da sigla decidiram se afastar oficialmente da base. Rejeitam o rótulo de oposição, mas avisam: vão agir com independência e critério. “Não vamos nos alinhar com o PL, mas também não dá mais para engolir certos sapos”, disse um parlamentar.
Nos bastidores, a irritação é generalizada. Para além da forma como Lupi foi dispensado, pesa também o fato de o partido ter sido ignorado na hora de discutir seu próprio futuro no ministério. A gota d’água foi não ter sido sequer consultado sobre o substituto.
A reunião em que a decisão foi tomada contou com a presença de Lupi, que reafirmou não ter qualquer envolvimento nas fraudes investigadas pela Polícia Federal e pela CGU. Ele disse ter saído de cabeça erguida e afirmou que não há provas contra ele — nem indício de omissão.
O clima, no entanto, é de rompimento. A relação, que já vinha sofrendo abalos desde o início do governo, agora se rompe de vez — o que pode complicar ainda mais a frágil articulação política de Lula no Congresso. O Planalto perde mais um apoio e vê crescer a dificuldade para aprovar pautas delicadas, especialmente na área econômica.
Internamente, o episódio reacende a possibilidade de o PDT lançar um nome próprio para disputar a Presidência em 2026 — como fez em 2022 com Ciro Gomes. A desconfiança com o PT nunca foi segredo, mas agora a ferida é exposta em praça pública.
O “desembarque com mágoa” do PDT mostra que, em Brasília, as alianças não resistem quando o jogo de poder atropela a lealdade.