Petrobras frustra mercado com corte de dividendo extraordinário e forte queda no lucro
A Petrobras confirmou na quinta-feira (7) temores de investidores de que não pagaria dividendos extraordinários relativos ao quarto trimestre. A companhia anunciou a distribuição de dividendos ordinários de R$ 14,2 bilhões, dentro da fórmula que estabelece o equivalente a 45% do fluxo de caixa livre. Os dividendos correspondem a R$ 1,09894844 por ação preferencial e ordinária e serão pagos em duas parcelas, em maio e junho. Caso a proposta seja aprovada em assembleia de acionistas, no dia 25 de abril, os dividendos totais pagos pela companhia relativos a 2023 totalizarão R$ 72,4 bilhões, considerando as antecipações realizadas ao longo do ano passado.
A expectativa, hoje, é com a reação do mercado nacional com a decisão da empresa de não pagar dividendos extras. Com a notícia sobre o pagamento dos dividendos, as ações da companhia na Bolsa de Nova York chegaram a cair cerca de 10% nas negociações pós-mercado.
Na semana passada, declarações do presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, sobre o fato de que investimentos em transição energética é algo que requer “conservadorismo” no pagamento de dividendos, o que causou queda forte na cotação das ações da companhia. O Valor apurou que a diretoria da Petrobras propôs pagamento de dividendos extraordinários, sendo metade destinada para a reserva de capital e a outra metade direcionada aos acionistas.
No entanto, a proposta não foi aprovada pelos conselheiros em reunião que se estendeu noite adentro. O temor, segundo as fontes, era de que a empresa ficasse sem dinheiro suficiente em caixa para executar o plano estratégico 2024-2028+, que tem foco em projetos associados à transição energética.
“A aprovação do dividendo é compatível com a sustentabilidade financeira da Companhia e está alinhada ao compromisso de geração de valor para a sociedade e para os acionistas, assim como às melhores práticas da indústria mundial de petróleo e gás natural”, disse a Petrobras, em comunicado.
A pauta também incluiu a aprovação dos resultados da petroleira, que teve lucro líquido de R$ 124,60 bilhões em 2023, 33,8% abaixo do apurado em 2022. A receita líquida recuou 20,2% no ano passado, na comparação com 2022, para R$ 511,99 bilhões, enquanto o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado caiu 23% em bases anuais, para R$ 262,23 bilhões.
No quarto trimestre, o lucro líquido foi de R$ 31,04 bilhões, abaixo da média de seis casas de análises consultadas pelo Valor, que indicava um resultado de R$ 34,1 bilhões no quarto trimestre. A receita líquida no trimestre encerrado em dezembro caiu 15,3%, ante a igual período no ano passado, para R$ 134,26 bilhões, acima da média projetada pelos analistas, de R$ 128 bilhões. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado foi de R$ 66,85 bilhões, recuando em 8,5% na comparação anual e aquém do estimado pelos analistas, de R$ 70,2 bilhões.
A reunião evidenciou o racha no conselho e o isolamento de Jean Paul Prates, presidente da Petrobras, que também ocupa um assento no colegiado. Dos 11 conselheiros, os cinco ligados ao ministro Alexandre Silveira e Rosângela Buzanelli, representante dos funcionários, votaram contra o pagamento dos dividendos extraordinários. Prates se absteve e os quatro conselheiros minoritários votaram a favor.
A reserva de capital foi aprovada em outubro passado com o objetivo de assegurar recursos para pagamento de dividendos, juros sobre capital próprio (e respectivas antecipações), recompras de ações, absorção de prejuízos e incorporação ao capital social. A diretoria da empresa e o governo têm defendido distribuição de menos dividendos, para financiar projetos de energias renováveis.
“Reconhecemos que a transição energética ocorrerá de forma gradual e, portanto, continuaremos investindo na exploração e produção de óleo e gás, segmento onde geramos os maiores retornos (…) Vamos também gerar valor com a transição justa e responsável, diversificando nossas operações em negócios rentáveis de baixo carbono e sempre priorizando parcerias”, disse Prates, em mensagem junto ao balanço.
Endividamento
A empresa divulgou ainda que seu endividamento líquido chegou a US$ 44,7 bilhões no fim de dezembro, alta de 2,2% ante o endividamento do fim de setembro, de US$ 43,7 bilhões. Em dezembro de 2022, a cifra tinha chegado a US$ 41,5 bilhões.
Com isso, a alavancagem financeira medida pela relação entre dívida líquida e resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado chegou a 0,85 vez, ante 0,83 vez no fim de setembro e 0,63 vez em dezembro de 2022.
Caixa
A receita financeira alcançou R$ 2,91 bilhões, uma queda de 0,6% na comparação com o período de julho a setembro, mas um avanço de 27,1% ante o quarto trimestre de 2022. Já a despesa financeira caiu 8,8% na comparação trimestral e 0,8% na anual, para R$ 5,18 bilhões.
A Petrobras encerrou o quarto trimestre com R$ 86,67 bilhões em caixa, um montante 35,2% superior aos R$ 64,09 bilhões do terceiro trimestre.
FONTE: Valor Investe