PF Indicia Bolsonaro, Carlos e Ramagem por Espionagem Clandestina com a “Abin Paralela”

PF Indicia Bolsonaro, Carlos e Ramagem por Espionagem Clandestina com a “Abin Paralela”

Relatório da PF aponta uso ilegal de sistema de rastreamento para vigiar ministros do STF, adversários políticos, servidores e até cidadãos comuns

A Polícia Federal finalizou e enviou ao Supremo Tribunal Federal (STF) um relatório que joga luz sobre um dos episódios mais graves de abuso de poder nos bastidores do governo Jair Bolsonaro: a existência de uma “Abin paralela”, uma estrutura clandestina de espionagem montada dentro da própria Agência Brasileira de Inteligência.

Segundo a investigação, essa rede operava sob comando do então diretor da Abin, Alexandre Ramagem (PL-RJ), a mando do ex-presidente Bolsonaro, e contava com a participação ativa do vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ). O grupo teria utilizado de forma ilegal uma ferramenta de geolocalização chamada “First Mile”, capaz de rastrear celulares por antenas de rede, para espionar opositores, jornalistas, autoridades e até cidadãos sem cargo público.

O relatório aponta que a finalidade era produzir dossiês, divulgar fake news e monitorar os passos de quem pudesse representar uma ameaça política ao governo. Entre os alvos estavam nomes de peso como os ministros do STF Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso, Luiz Fux e Dias Toffoli, além de figuras como Arthur Lira, Rodrigo Maia, João Doria e Jean Wyllys. Até fiscais do Ibama e líderes de caminhoneiros críticos ao governo foram monitorados.

O material foi entregue ao ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no STF. Agora, cabe à Procuradoria-Geral da República decidir se transforma os indiciamentos em denúncia formal.

Ligação com o suposto plano golpista

A PF também detectou conexões entre essa rede informal de inteligência e a tentativa de golpe de Estado após a derrota de Bolsonaro nas urnas em 2022. Mensagens e documentos apreendidos revelam que Ramagem orientava o então presidente a adotar um discurso mais agressivo contra o Judiciário e as urnas eletrônicas, numa estratégia de minar a credibilidade do processo eleitoral.

Suposta espionagem durante as eleições

Um dos trechos mais alarmantes do relatório indica que o sistema foi intensamente utilizado durante o período das eleições municipais de 2020. O que deveria ser uma ferramenta para segurança nacional acabou servindo para espionar adversários políticos, inclusive em áreas sensíveis como as proximidades do Tribunal de Justiça do DF.

Embora o pretexto oficial fosse combater o crime organizado, a PF não encontrou indícios de uso legítimo nesse sentido. O que se viu, segundo os investigadores, foi uma operação silenciosa para mapear juízes, advogados e até diplomatas em bairros nobres de Brasília e do Rio de Janeiro.

O que vem agora?

Com esse indiciamento, Bolsonaro acumula três investigações criminais. Resta à PGR decidir se levará adiante a denúncia, num momento em que o ex-presidente ainda busca retomar espaço político para as eleições de 2026.

Enquanto isso, o caso expõe um uso sombrio da máquina pública para fins privados e políticos, numa ameaça direta à democracia e às instituições.

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