PF pagou segurança para diretor-geral em Londres após negar gasto público
As informações são do Siga, sistema do Senado Federal com todos os dados de pagamento do governo federal
A Polícia Federal pagou as diárias de um segurança que acompanhou o diretor-geral da instituição, Andrei Rodrigues, em viagem a Londres, no Reino Unido, em abril.
Ele recebeu R$ 9,5 mil dos cofres públicos. As informações são do Siga, sistema do Senado Federal com todos os dados de pagamento do governo federal. A diária para o Reino Unido varia de US$ 350 a US$ 460.
Depois do evento, quando questionada sobre os custos para os cofres públicos da participação de Andrei no 1º Fórum Jurídico Brasil de Ideias, a PF disse que as despesas foram custeadas pela organização do evento no Reino Unido e que o convite para a viagem foi feito pelo site Consultor Jurídico.
“A viagem foi sem ônus para União, tendo a organização do evento custeado passagem, em voo comercial, e hospedagem -no The Peninsula”, afirmou a PF na ocasião.
Questionada após a descoberta do gasto, a PF informou que “houve acompanhamento de seguranças, atividade que gerou despesas conforme legislação em vigor”.
A PF apontou ainda que, além de participar do Fórum, Andrei compareceu a uma reunião com o comissário-geral da polícia londrina, Peter O’Doherty. “Na ocasião, foram tratados temas como o intercâmbio de policiais em áreas de interesse de ambas as instituições, entre outros assuntos.”
O Grupo Voto, presidido pela cientista política Karim Miskulin, organizou o fórum. Em 2022, às vésperas da campanha eleitoral, ele promoveu almoço de Jair Bolsonaro (PL) com 135 empresárias e executivas no Palácio Tangará, em São Paulo.
Também participaram do evento em Londres os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes, Dias Toffoli e Alexandre de Moraes, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, e os ministros do governo Lula (PT) Ricardo Lewandowski (Justiça) e Jorge Messias (Advocacia-Geral da União).
Empresas com ações nos tribunais superiores bancaram palestrantes ou patrocinaram o evento. Entre elas, estão a indústria de cigarros BAT Brasil (British American Tobacco) -antiga Souza Cruz- e o Banco Master.
Jornalistas foram impedidos de acompanhar o fórum, que teve no total a participação de ao menos dez autoridades do Judiciário brasileiro. Na entrada do evento, Gilmar afirmou não saber da proibição à imprensa. “Isso não nos foi informado. Eu não sabia, vou me informar.”
Como mostrou a reportagem, não foi permitido à imprensa, inclusive, permanecer no mesmo andar em que o evento ocorreu, o luxuoso Hotel Peninsula, ao lado do Hyde Park, cartão postal de Londres, e cujas diárias custam acima de £ 900 (cerca de R$ 5.800).
1º FÓRUM JURÍDICO DE IDEIAS
O diretor-geral da PF não foi o único a levar segurança custeado com recursos públicos para Londres.
O ministro Dias Toffoli gastou R$ 99,6 mil de recursos públicos em diárias para um servidor que o acompanhou em viagens para Londres, no Reino Unido, e Madri, na Espanha, onde participou de outros eventos.
O STF omitiu informações sobre as viagens feitas por Toffoli e se negou a confirmar se ele passou 25 dias no exterior, conforme indicam os pagamentos ao servidor que o acompanhou.
O STF tirou do ar a página de transparência sobre diárias e passagens. O site ficou uma semana desativado e, quando voltou, não tinha mais as informações sobre seguranças de ministros.
“As informações sobre segurança institucional sempre foram divulgadas com restrição, sem detalhamento, de modo a dificultar qualquer planejamento que crie riscos reais para tribunal, seus ministros e servidores. O formato em que estavam sendo divulgadas recentemente as informações sobre diárias e passagens estava em descompasso com essa orientação”, justificou o STF.