PM chora e explica mensagem chamando Moraes de advogado de facção
Em depoimento ao STF, ex-comandante da PMDF réu pelo 8/1 nega qualquer ação contra Instituições, chora e explica mensagem fake compartilhada
A audiência de instrução e julgamento dos policiais militares réus pelo 8 de janeiro entrou no segundo dia de depoimentos dos oficiais na segunda-feira (20/5), no Supremo Tribunal Federal (STF). Klepter Rosa Gonçalves, ex-comandante da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), deu esclarecimentos em um depoimento de mais de três horas. Ele se defendeu por não ter colocado a tropa de prontidão, explicou sobre a mensagem falsa compartilhada chamando Alexandre de Moraes de “advogado de facção” e chorou ao término da oitiva.
Klepter ocupava o cargo de subcomandante-geral da PMDF na data do ataque contra as instituições democráticas, em 8 de janeiro de 2023. Ele assumiu o posto máximo da corporação em 15 de fevereiro daquele ano, mas foi preso em 18 de agosto, após ser denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por suposta omissão. A denúncia mencionou, entre outras evidências, um vídeo enviado por Klepter com áudios falsos atribuídos a Ciro Gomes, onde Moraes é chamado de “advogado de facção”.
Em seu depoimento, ele se defendeu dizendo: “Não afirmei que esse áudio era verdadeiro, apenas o encaminhei. Havia uma preocupação de que algo poderia ocorrer, e foi nessa circunstância que encaminhei essa mensagem”, argumentou. A mensagem foi enviada em 28 de outubro de 2022, dois dias antes do segundo turno da eleição presidencial, às 15h10.
Manifestantes bolsonaristas invadem a Esplanada dos Ministérios, promovendo atos de vandalismo e terrorismo em prédios públicos. Na imagem, eles invadem o Congresso Nacional e destroem parte do gramado, entrando em confronto com a polícia.
Os áudios enviados em formato de vídeo sugeriam que as eleições já estariam “armadas” e que o Exército sabia disso. “Quando o resultado das eleições mostrar que o Lula ganhou, o art. 142 será colocado em prática. A ordem será restabelecida, afastando Xandão e os vagabundos dessa quadrilha. Não admito que o Brasil permita que um marginal como Lula volte ao poder”, dizia a voz no vídeo, falsamente atribuída a Ciro Gomes.
A defesa do coronel ressaltou que “em nenhuma mensagem, ele fez qualquer juízo de valor, comentário ou reenviou para qualquer pessoa, exceto para as autoridades que precisavam estar informadas”. Veja a nota completa abaixo.
Veja quem são os réus denunciados:
- Fábio Augusto Vieira, ex-comandante da PMDF;
- Klepter Rosa Gonçalves, também ex-comandante;
- Jorge Eduardo Naime, ex-comandante de operações;
- Paulo José Ferreira, chefe interino do Departamento de Operações (DOP) no 8 de Janeiro;
- Marcelo Casimiro, então titular do 1º Comando de Policiamento Regional (CPR);
- Rafael Pereira Martins, chefe de um destacamento do Batalhão de Polícia de Choque da PMDF na data;
- Flávio Silvestre de Alencar, major que foi preso duas vezes pela Polícia Federal (PF) no âmbito das investigações sobre supostas omissões.
Sobreaviso x prontidão A denúncia da PGR também culpava Klepter por não ter deixado a tropa da PMDF em prontidão, mas apenas em sobreaviso. Em prontidão, todos os PMs ficariam no quartel, prontos para atuação imediata, se necessário. Já em sobreaviso, os militares ficam em casa. Segundo a Procuradoria-Geral, Klepter e o outro ex-comandante-geral, Fábio Augusto Vieira, “poderiam ter interrompido o curso dos atentados aos Três Poderes da República se tivessem determinado a mobilização de um efetivo compatível com a dimensão dos eventos”.
Ao STF, Klepter fez diversas ponderações sobre o fato, dizendo que a decisão veio após conversas com Fábio, Marcelo Casimiro, então titular do 1º Comando de Policiamento Regional (CPR), e Paulo José, chefe interino do Departamento de Operações (DOP) no 8 de Janeiro. Ele também alegou falta de informações precisas, pontuando que “é extremamente difícil” definir o emprego de tropa para um evento “sem data nem horário”.
Ao fim do depoimento, sensibilizado, o ex-comandante-geral disse que os oficiais que hoje são réus, e outros que não são, estavam com “cara de abatimento gigante” após as invasões aos prédios da Praça dos Três Poderes. Ele concluiu que o ataque à democracia de 8 de Janeiro poderia não ter ocorrido se a PM tivesse tido autorização para desmobilizar o acampamento em frente ao Quartel-General, e chorou dizendo que não agiu de forma omissa.
“Quando assumi o comando, jamais fiz qualquer ação proposital que colocasse em risco as Instituições democráticas. Em um momento tão delicado na nossa história, sempre agi de forma técnica e legalista”, afirmou.
Após o depoimento de Klepter, foram ouvidos Paulo José, Casimiro e o tenente Rafael Pereira Martins, chefe de um destacamento do Batalhão de Polícia de Choque da PMDF na data. A audiência que começou às 10h e teve dois intervalos de cinco minutos, só foi finalizada às 20h07.
Atuação firme A defesa do coronel Klepter Rosa, promovida por Newton Rubens de Oliveira e Almiro Júnior, enviou nota sobre o depoimento, ressaltando que a atuação firme do militar garantiu prisões de criminosos. Veja a nota completa:
“No seu depoimento, o Coronel Klepter Rosa contextualizou e deixou claro que enviou apenas duas mensagens, vídeo/folder, mas em nenhuma delas fez qualquer juízo de valor, comentário ou reenviou para qualquer pessoa, exceto para as autoridades que precisavam estar informadas.
Naquele contexto histórico e diante da falta de relatórios de inteligência de seu conhecimento, as mensagens serviram para dar ciência aos chefes do DOP e do CI sobre o que estava circulando nas redes, para que tomassem as providências necessárias, bem como para manter o comandante-geral informado sobre o que estava sendo veiculado.
Esclareceu ainda que a Secretaria de Segurança Pública do DF não repassou informações de inteligência relevantes à estrutura do DOP, responsável pelo planejamento do policiamento. Ele disponibilizou previamente, em auxílio ao DOP, toda a estrutura administrativa da PMDF para ser utilizada nos serviços do dia 8/1 e seguintes, caso o DOP considerasse necessário diante das informações e avaliações que tinha à disposição.
A defesa do Coronel Klepter ainda esclarece que, graças à sua atuação firme, foi possível a prisão de mais de 300 pessoas ainda no dia 8/1. Se não fosse a oposição do Exército Brasileiro, a PMDF teria entrado no acampamento e efetuado a prisão de milhares de manifestantes no próprio dia 8.
O coronel Klepter Rosa finalizou enfatizando que cumpriu integralmente com seu papel institucional e constitucional, tanto é que logo em seguida foi nomeado Comandante-Geral da Corporação pelo interventor, Ricardo Cappelli, e ainda recebeu moção de louvor concedida pelo Ministro da Justiça, Flávio Dino, em conjunto com o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Augusto.”