Presa em megoperação na cracolândia de São Paulo foi candidata a vereadora pelo PT

Presa em megoperação na cracolândia de São Paulo foi candidata a vereadora pelo PT

Janaína da Conceição disputou as eleições em 2020

Uma grande operação policial realizada na terça-feira (6) para combater uma série de atividades criminosas no centro de São Paulo resultou na prisão de 10 pessoas, incluindo Janaína da Conceição Cerqueira Xavier, de 44 anos, que concorreu nas eleições municipais de 2020 pelo Partido dos Trabalhadores (PT) ao cargo de vereadora. O Estadão não conseguiu contato com a defesa de Janaína.

Em nota, o PT afirmou que Janaína, atualmente suspeita de envolvimento com o tráfico de drogas, “nunca teve atividade” no partido e que, após as eleições municipais de 2020, “nunca mais participou das atividades” da legenda. O partido também defendeu as investigações e a punição dos culpados.

Com apenas 238 votos, a então candidata não foi eleita para a Câmara Municipal. Atualmente, ela é suplente. À Justiça Eleitoral, ela declarou um total de despesas de R$ 23 mil ao longo da campanha. Nos atestados de antecedentes criminais entregues à Justiça Eleitoral, não consta nenhuma condenação até agosto de 2020.

A operação desta terça-feira, chamada de Salus et Dignitas (Segurança e Dignidade, em latim), teve como principais alvos grupos de policiais e guardas civis metropolitanos que, organizados em milícias, extorquiam comerciantes em troca de segurança e proteção contra a violência no centro da capital paulista.

Questionado sobre a investigação envolvendo agentes da Guarda Civil Metropolitana, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), afirmou que “desconhece milícia atuando na cidade de São Paulo”. “Não vão ser 1, 2, 3, 4 ou 5 que vão manchar a reputação de 7 mil guardas”, disse ele. “A Prefeitura tem um regime muito rígido com relação à sua Guarda Civil Metropolitana, devido à consideração e ao reconhecimento do grande trabalho da GCM para a cidade de São Paulo.”

A investigação revelou a existência de um “ecossistema de atividades ilícitas”. Além da milícia que impunha a cobrança de segurança dos comerciantes e da distribuição de drogas na Cracolândia, esse ecossistema criminoso também incluía o comércio de peças de carros e motos, a receptação de celulares roubados e a venda de armas em uma rede de hotéis, lojas, ferros-velhos e estacionamentos.

Além disso, foi detectada uma rede de prostituição em hotéis e o uso de trabalho infantil e de usuários de droga pela indústria de reciclagem, que são pagos com pedras de crack e cachaça.

“O estágio atual de deterioração e degradação moral, com violações sistêmicas a direitos humanos básicos e numerosas práticas criminosas, constitui uma das questões mais complexas e desafiadoras ao Estado brasileiro”, afirmaram os promotores.

A região é marcada pelo domínio do Primeiro Comando da Capital (PCC) e pelas cenas de uso de drogas pelos dependentes químicos da chamada Cracolândia.

A operação policial foi coordenada pelo Grupo Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público Estadual (MPE), que esteve à frente das investigações.

Além de 25 promotores e agentes do MPE, participaram da operação 105 policiais civis, mil policiais militares, 150 policiais rodoviários federais e fiscais das Receitas Estadual e Federal. Ao todo, 1,3 mil agentes, cerca de 400 viaturas e um helicóptero foram mobilizados.

A Justiça também decretou o sequestro de 20 hotéis, cortiços e hospedarias, quatro estacionamentos, 15 ferros-velhos e oito lojas, além de determinar a interdição de 44 estabelecimentos, que devem ser emparedados.

Ao todo, foram apreendidos 122 telefones celulares, 23 computadores, 78 veículos, R$ 155 mil e dez quilos de drogas.

Em nota, o PT confirma que Janaína Xavier se candidatou pelo partido, mas que “nunca teve atividade” na legenda. “Ela se filiou no dia 25 de abril de 2019 para concorrer no ano seguinte a vereadora como representante da população em situação de rua, recebeu 238 votos e nunca mais participou de atividades partidárias”, afirmou.

“Na época da filiação não havia qualquer processo contra ela. O PT defende as investigações e que os culpados sejam punidos conforme a lei”, completou o Partido dos Trabalhadores em nota.

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