Presidente Gabriel Boric critica esquerda por não repudiar violações aos Direitos Humanos por Maduro, Ortega e Putin
Presidente reclama de que violações sejam julgadas com diferentes critérios de acordo com ideologia
Gabriel Boric está, mais uma vez, botando o dedo na ferida da esquerda, e com razão. Ele criticou com veemência a falta de uma posição firme e unificada em relação às atrocidades cometidas em países como Venezuela, Nicarágua e Rússia. E o que mais revolta é que parece haver uma balança seletiva: se a violação vem de um governo de esquerda, muitos fecham os olhos. O presidente chileno expressou seu descontentamento durante um evento sobre Democracia e Combate ao Extremismo, organizado por Lula e Pedro Sánchez, em plena Assembleia Geral da ONU. É o tipo de crítica que incomoda, porque bate diretamente na hipocrisia de julgar abusos conforme a conveniência ideológica.
Boric foi claro: não importa se o violador dos direitos humanos é Netanyahu, Maduro, Ortega ou Putin — a condenação deveria ser inequívoca, sem distinção de ideologia. Mas o que vemos é uma dança covarde de interesses políticos mal disfarçados de “amizades”. Se a direita foi ambígua em condenar tentativas de golpe como as de Bolsonaro e Trump, a esquerda também não sai ilesa: usa um filtro conveniente quando precisa condenar seus aliados.
A crítica é ainda mais contundente quando Boric fala sobre o impacto devastador dessa postura dúbia na própria América Latina. Ele mencionou a “venezuelização”, como a questão da Venezuela corroeu a credibilidade das esquerdas na região. E é impossível não se lembrar do confronto em maio, quando Lula tentou suavizar os abusos de Maduro, chamando-os de “narrativas”. Boric, sem medo de perder amigos, foi firme: “O desrespeito aos direitos humanos na Venezuela é uma realidade dolorosa, que eu vi nos olhos de centenas de milhares de venezuelanos exilados”.
Essa postura de Boric incomoda porque escancara o que muita gente tenta esconder: que os direitos humanos não são negociáveis, muito menos instrumentos para proteger aliados políticos. Se a esquerda quer ter algum futuro, precisa abandonar as “duas varas” para medir violações e se comprometer com a defesa irrestrita dos princípios que diz defender.