
Pressão e impasse ambiental: Ibama e Lula divergem sobre exploração de petróleo na Foz do Amazonas
Presidente do Ibama rebate críticas de Lula e diz estar acostumado a cobranças
O presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Rodrigo Agostinho, se manifestou após as críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre a demora na liberação de licenças para a exploração de petróleo na Foz do Amazonas.
Em entrevista à Rádio Diário FM, de Macapá, Lula expressou insatisfação com a demora no processo, chegando a afirmar que o Ibama “parece atuar contra o governo”. O presidente reforçou seu apoio à exploração petrolífera na região, o que gerou reação por parte de Agostinho.
“Isso faz parte do trabalho. Se eu não gostasse de pressão, não estaria aqui. O presidente nunca me pressionou diretamente, mas projetos desse porte são sempre cobrados pela sociedade”, declarou Agostinho em entrevista ao jornal O Globo.
Decisão pode sair apenas em março
A expectativa era de que uma reunião entre o Ibama e a Casa Civil pudesse acelerar a análise da licença ambiental. No entanto, Agostinho afirmou que não foi notificado sobre um novo encontro e destacou que o tema está sendo tratado em discussões frequentes dentro do governo.
“A Casa Civil acompanha o assunto de perto. Temos reuniões constantes, seja por esse empreendimento ou por outros que fazem parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)”, explicou.
Ele ressaltou que a decisão sobre a liberação da exploração dificilmente sairá antes de março. A Petrobras, que busca a autorização, apresentou em dezembro um novo plano de emergência que está em fase de análise pelo Ibama. Paralelamente, a estatal está construindo uma base em Oiapoque (AP), a 170 km da área de exploração, para responder a eventuais incidentes ambientais.
Potencial bilionário da região
A chamada Margem Equatorial, que abrange diversas bacias petrolíferas ao longo da Linha do Equador, incluindo a Foz do Amazonas, é vista pelo governo como uma grande oportunidade econômica. Estima-se que a exploração na região possa render cerca de R$ 1 trilhão em arrecadação.
O apoio de Lula à iniciativa também reflete um compromisso político com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), que representa o estado do Amapá — onde está localizada a área com potencial de até 30 bilhões de barris de petróleo.
Em 2023, o Ibama negou a licença para a Petrobras iniciar a exploração, exigindo uma série de medidas ambientais para mitigar riscos. Apesar da pressão política para acelerar o processo, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, garantiu que tanto sua pasta quanto o Ibama atuam com independência. “Nosso papel é avaliar criteriosamente os impactos ambientais, sem facilitar ou dificultar nenhum processo”, afirmou.