
Pressão nos bastidores: governo é acusado de ameaçar deputados por apoio à anistia do 8 de janeiro
Sóstenes Cavalcante denuncia que parlamentares foram coagidos com promessas de cortes em emendas e cargos; Planalto admite alertas, mas nega tom ameaçador
O clima nos bastidores da Câmara esquentou. O deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), líder do partido, acusou o governo Lula de recorrer à velha tática da pressão para tentar impedir a tramitação do projeto que concede anistia aos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro. Segundo ele, deputados que assinaram o pedido de urgência foram alvo de ameaças veladas: se continuassem apoiando a proposta, poderiam perder emendas e cargos indicados.
Fontes do Palácio do Planalto confirmaram que houve, sim, recados encaminhados aos parlamentares por meio de aliados e interlocutores, mas negaram que tenham sido intimidações. A narrativa do governo é que apenas “lembraram” que os cargos serão avaliados em breve e que seria incoerente manter benefícios a quem vota contra os interesses da gestão.
Sóstenes, no entanto, afirma ter recebido telefonemas de pelo menos três deputados relatando o desconforto e a pressão. Um deles, segundo o líder do PL, revelou que tem uma emenda de R$ 25 milhões para a área da saúde pendente de liberação – e temia perder o recurso se insistisse no apoio ao projeto.
Diante do clima de intimidação, Cavalcante antecipou o protocolo do requerimento de urgência, mesmo sem atingir a meta de 300 assinaturas. Ao final, conseguiu 262 apoios. Apenas uma deputada, Helena de Lima (MDB-RR), recuou. O regimento da Câmara impede que novas assinaturas sejam incluídas ou retiradas após a formalização, salvo se mais da metade dos deputados (ao menos 132) pedirem a anulação do pedido.
Nas redes sociais, Sóstenes foi direto: “Protocolei antes do previsto diante da pressão covarde do governo”, escreveu no X (antigo Twitter).
Agora, a decisão sobre o andamento da proposta está nas mãos do presidente da Comissão, Hugo Motta (Republicanos-PB), que deverá decidir se e quando o tema irá ao plenário.
O episódio expõe a tensão entre Planalto e a ala bolsonarista da Câmara — uma disputa que promete novos capítulos à medida que a anistia segue dividindo opiniões e emparedando aliados.