
Pressionado por escândalos no INSS, Carlos Lupi deixa Ministério da Previdência
Crise por fraudes e desgaste interno selam saída; pasta deve continuar nas mãos do PDT, que agora negocia novo nome com o Planalto
Depois de semanas sob fogo cruzado, Carlos Lupi oficializou sua saída do comando da Previdência Social nesta sexta-feira (2/5), entregando o cargo ao presidente Lula. A demissão ocorre em meio a uma crise de reputação provocada por fraudes bilionárias no INSS e forte pressão interna — inclusive dentro de seu próprio partido, o PDT, onde já se considerava a permanência de Lupi insustentável.
Nas redes sociais, o agora ex-ministro confirmou a decisão:
“Entrego, na tarde desta sexta-feira, a função de Ministro da Previdência Social ao Presidente Lula, a quem agradeço pela confiança e pela oportunidade.”
A substituição foi negociada diretamente pelo Planalto. Coube à ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT), conduzir o diálogo com a direção do PDT. As conversas avançaram durante os bastidores das celebrações do 1º de Maio, até chegarem a um consenso. A pasta seguirá sob controle do partido, com dois nomes cotados: o deputado André Figueiredo (CE) e o atual número dois do ministério, Wolney Queiroz (PE).
Escândalo e desgaste
O estopim da saída de Lupi foi o escândalo revelado por investigações da Polícia Federal e da CGU, que detectaram fraudes em descontos aplicados a milhões de aposentados — com prejuízo estimado em R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024. Entidades conveniadas ao INSS foram usadas para enganar beneficiários, o que gerou um abalo na imagem da Previdência.
Além disso, Lupi foi criticado dentro do governo por manter quadros herdados da gestão anterior em cargos-chave, o que teria travado uma reestruturação mais profunda do setor. Para Lula, a troca no comando é uma tentativa de virar a página e conter os danos antes da possível instalação de uma CPI do INSS no Congresso.
Tensão dentro do PDT
Apesar de articulada com o Planalto, a saída de Lupi revelou fissuras no PDT. Uma ala ligada a Ciro Gomes defende que o partido use a crise como pretexto para romper com o governo Lula. Ciro, que não apoiou o petista no segundo turno de 2022, segue como uma voz crítica dentro do campo progressista.
Por outro lado, setores mais pragmáticos do partido preferem manter o espaço no governo e indicam que a substituição de Lupi é uma forma de preservar a influência institucional da legenda.
No Palácio do Planalto, a avaliação é que a saída de Lupi não representa um rompimento, mas uma manobra necessária para estancar a crise e tentar resgatar a credibilidade da Previdência Social — um tema delicado que afeta diretamente milhões de brasileiros.