PSOL propõe lei para proteger funkeiros contra acusações ligadas ao crime organizado

PSOL propõe lei para proteger funkeiros contra acusações ligadas ao crime organizado

Projeto defende que artistas não sejam penalizados por sua origem ou estilo musical, em meio a controvérsia sobre censura e criminalização da cultura periférica.

Na última terça-feira (3), o deputado federal Pastor Henrique Vieira, do PSOL do Rio de Janeiro, apresentou um projeto de lei que busca criar o Programa de Prevenção à Censura na Arte e na Cultura. A ideia principal é impedir que órgãos públicos utilizem o conteúdo artístico como justificativa para negar recursos financeiros ou impedir contratações.

Vieira usa como exemplo os funkeiros Oruam e MC Poze do Rodo, dois artistas negros, moradores de comunidades cariocas, que têm enfrentado uma espécie de perseguição que ele classifica como racista. Segundo o deputado, a tentativa de associar as letras e o trabalho desses músicos ao crime organizado não se baseia no que eles realmente produzem, mas sim na cor da pele deles e na origem social e geográfica.

Esse projeto vem como resposta direta à chamada “Lei Anti-Oruam”, aprovada em São Paulo, que desde janeiro proíbe que artistas acusados de fazer apologia ao crime, tráfico ou sexualização sejam contratados com dinheiro público. A responsável por essa lei é a vereadora Amanda Vettorazzo, do União Brasil, que coordena o Movimento Brasil Livre (MBL) e defende a iniciativa como forma de evitar que o Estado financie eventos que, em sua visão, incentivam comportamentos criminosos entre os jovens.

O debate ganhou ainda mais força após a prisão de MC Poze do Rodo, no final de maio, acusado de envolvimento com tráfico de drogas. De acordo com a Polícia Civil do Rio de Janeiro, o cantor se apresenta apenas em áreas controladas pelo Comando Vermelho e teria admitido sua ligação com a facção para autoridades penitenciárias. Já Oruam, filho do traficante conhecido como Marcinho VP, enfrenta acusações relacionadas a porte e uso ilegal de armas.

Amanda Vettorazzo, que sofreu ameaças após críticas feitas por Oruam nas redes sociais, levou o caso ao Ministério Público Federal, solicitando a retirada das músicas dos dois funkeiros de plataformas como YouTube e Spotify. Mais de mil parlamentares apoiam essa ação, baseando-se no artigo 287 do Código Penal, que tipifica a apologia ao crime.

Por outro lado, especialistas ouvidos por veículos como CNN Brasil e UOL questionam a legalidade dessa iniciativa, argumentando que ela pode violar o direito à liberdade de expressão.

Para Vieira, o que está em jogo é uma censura seletiva contra a arte periférica. Ele compara o tratamento dado hoje ao funk e ao trap com a perseguição sofrida pelo samba no século passado, mostrando que a marginalização cultural tem raízes históricas profundas.

O projeto de lei 2709/2025 ainda está no começo da tramitação na Câmara dos Deputados e aguarda a indicação de relator nas comissões de Cultura e de Constituição e Justiça.

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