
Quando a solidariedade fala mais alto que a ética: PT defende Kirchner e ignora condenação por corrupção
Com passado nada exemplar, Gleisi e aliados do partido de Lula tentam transformar uma sentença judicial em drama político sul-americano
Nada como uma velha amiga na cadeia para reunir os companheiros de sempre. A confirmação da condenação de Cristina Kirchner — seis anos de prisão por corrupção, com direito à inabilitação perpétua para cargos públicos — foi o estopim para um festival de panos passados promovido por figuras conhecidas do PT, entre elas a presidente da legenda, Gleisi Hoffmann, e o deputado Lindbergh Farias, ambos com histórico nada distante de investigações similares.
A reação? Nada de surpresa. Em vez de encarar os fatos com um mínimo de vergonha ou senso de justiça, os petistas decidiram vestir a fantasia de justiceiros do Sul Global: “perseguição política”, “ameaça à democracia”, “ataque às liberdades”. Faltou só o bordão “Lula livre” para completar o bingo da narrativa.
Gleisi, que sabe bem o que é estar na mira da Justiça — e não exatamente como espectadora —, foi rápida em duvidar das provas contra a ex-presidente argentina. Em tom grave, declarou que o caso representa um “risco à liberdade política”. Liberdade política, no caso, parece ser o eufemismo do momento para “liberdade para delinquir sem consequências”.
O Instituto Lula, também nada estranho a acusações e condenações, tratou a decisão da Suprema Corte argentina como uma afronta ao Estado de Direito. Porque, claro, quando se trata de um aliado ideológico, o problema nunca é o crime — é quem prende.
Já Lindbergh Farias não quis perder o espetáculo. Acusou o presidente Javier Milei de orquestrar tudo, num esforço geopolítico para exterminar os “líderes progressistas” da América Latina. Ele só esqueceu de dizer que a justiça argentina levou anos reunindo provas, testemunhos e documentos para chegar ao veredito. Mas, em tempos de redes sociais, o tribunal da lacração grita mais alto do que qualquer tribunal constitucional.
A cereja do bolo foi a declaração de Milei, comemorando o que chamou de vitória da justiça e criticando os “jornalistas cúmplices dos políticos mentirosos”. O recado foi direto — e, para muitos, certeiro.
Enquanto isso, Kirchner tenta converter sua pena em prisão domiciliar, já que passou dos 70. Uma ironia amarga para quem sonhava voltar ao Congresso, mas agora pode, no máximo, presidir a associação de moradores da sala de estar.
No fim das contas, o recado é claro: no universo petista, a corrupção só existe quando é do adversário. Se for da turma do “companheiro”, é perseguição, lawfare, ou um complô internacional contra os pobres e oprimidos. E se você duvidar disso, Gleisi e companhia têm um estoque de panos de prato ideológicos prontos para te convencer.