
Saída com Almoço, Ligações e Despedidas: o Último Dia de Juscelino Filho no Governo
Surpreendido por denúncia da PGR, ex-ministro das Comunicações pediu exoneração após conversa com Lula e encontros políticos marcados por gestos de apoio e despedida
Juscelino Filho chegou ao Ministério das Comunicações na terça-feira acreditando que seria mais um dia normal no cargo. Mal sabia ele que, antes do café esfriar, a notícia de que havia sido denunciado pela Procuradoria-Geral da República já circulava na imprensa. Ao confirmar que era, de fato, alvo da denúncia, não hesitou: ligou direto para o presidente Lula e decidiu deixar o cargo, buscando evitar maiores desgastes ao governo.
O dia virou uma maratona de telefonemas, reuniões e despedidas. Ainda pela manhã, Juscelino saiu para um almoço que já estava combinado na casa de Antônio Rueda, presidente do União Brasil. Lá, encontrou a ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, e outros nomes de peso do partido, como o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, o líder do União na Câmara, Pedro Lucas Fernandes, e o ministro do Turismo, Celso Sabino.
O assunto principal não poderia ser outro: sua saída. Juscelino explicou que estava tomando a iniciativa de se afastar, para não comprometer o governo nem prejudicar o andamento da pasta. Disse também que precisava se dedicar exclusivamente à sua defesa. Segundo interlocutores, a decisão foi tomada de forma voluntária, embora o próprio Lula já tivesse afirmado, meses atrás, que afastaria qualquer ministro denunciado pela PGR.
No mesmo momento, Lula participava de um evento em São Paulo e foi informado da denúncia ainda na cerimônia. Para quem o acompanhava, ficou claro que a permanência de Juscelino era insustentável. A decisão final aconteceu antes do embarque de Lula para Honduras, onde participaria de uma cúpula da Celac.
Na conversa entre os dois, o presidente sugeriu que o então ministro deixasse o cargo para poder focar na sua defesa no Supremo Tribunal Federal. Ficou acertado que Juscelino escreveria uma carta pública formalizando sua saída.
De volta ao ministério, ele começou a redigir o texto que seria divulgado no início da noite. Reuniu sua equipe, explicou sua decisão e também conversou com os presidentes da Telebras e dos Correios. Disse que precisava de tempo e energia para provar sua inocência.
No fim da tarde, o vaivém de parlamentares e aliados no ministério aumentou. O deputado Elmar Nascimento e o senador Weverton Rocha estiveram entre os que passaram para se despedir. O ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, foi pessoalmente ao gabinete de Juscelino para um último abraço. Já o ministro do Turismo, Celso Sabino, foi além: se antecipou à nota oficial e publicou uma mensagem de solidariedade nas redes sociais, elogiando o trabalho do colega e desejando justiça.
Juscelino encerrou seu último dia com o sentimento de que precisava sair para não arrastar consigo o desgaste de uma acusação ainda em curso. Em sua nota oficial, declarou-se inocente e disse confiar no STF para reverter a denúncia. Agora, o foco se volta para sua defesa — e para o futuro do Ministério das Comunicações, que deve ser assumido por Pedro Lucas Fernandes, indicado pelo União Brasil.