
Sarney minimiza o 8 de Janeiro e diz que MDB deve apoiar Lula em 2026
Aos 95 anos, ex-presidente rejeita narrativa de golpe, defende reforma política e critica o sistema partidário atual, em entrevista à VEJA
Aos 95 anos, José Sarney ainda movimenta os bastidores políticos de Brasília mesmo vivendo no Maranhão, seu estado natal. Em entrevista à revista VEJA, o ex-presidente (1985–1990) opinou sobre a política atual, defendeu uma reforma profunda no sistema político e minimizou os atos de vandalismo do dia 8 de janeiro de 2023, negando que tenham sido uma tentativa de golpe de Estado.
Para Sarney, o episódio não representa um risco real à democracia: “Não foi golpe. Foi agitação. A democracia está consolidada nas instituições”, afirmou. Ele acredita que o próprio meio militar já aprendeu com o passado e hoje respeita o regime democrático. “Os militares sabem que aventuras autoritárias são danosas”, disse, citando a transição que liderou após a ditadura militar como um exemplo de sucesso na condução do país sem ruptura violenta.
Sarney também fez duras críticas ao atual modelo partidário, que considera confuso e fragmentado: “O Brasil não tem tradição de partidos nacionais fortes. As siglas mudam ao sabor das eleições, e isso enfraquece a democracia”. Para ele, uma reforma política deveria extinguir o voto proporcional e implantar o sistema distrital misto, além de adotar um parlamentarismo à francesa, onde o primeiro-ministro é escolhido pelo parlamento.
Sobre a atuação do STF nos processos envolvendo os atos de janeiro de 2023, Sarney acredita que houve exageros tanto na judicialização da política quanto na politização da Justiça. Ele defende que o Supremo aja com cautela: “Nosso sistema prisional é falho. Precisamos de punições que não agravem a superlotação, mas que sirvam de exemplo”.
Perguntado sobre a possível candidatura de Jair Bolsonaro e outros militares acusados de conspirar contra a democracia, Sarney evitou julgamentos precipitados: “Se forem culpados, que sejam punidos. Se forem inocentes, que sejam absolvidos”.
Apesar da movimentação de Michel Temer nos bastidores da direita, Sarney defende que o MDB continue apoiando Lula: “Ele tem feito bons governos e está comprometido com a democracia. Se for candidato, devemos estar ao lado dele”. Sarney destacou que o MDB é o único partido que resistiu à pulverização do sistema político e que mantém uma história de militância.
Em relação à política externa, elogiou a postura de Lula ao buscar relações com China e Rússia, e sugeriu prudência no trato com Donald Trump: “Devemos manter a independência e não cair em provocações. Como dizia meu avô: ‘Nunca corra atrás de um louco. Você não sabe para onde ele vai’”.
Sobre a ascensão da extrema direita no mundo, Sarney aposta que é uma fase passageira: “O radicalismo tende a desaparecer. O futuro está no equilíbrio, no diálogo e na paz”.