
“Sensação de ameaça” vira justificativa para massacre de paramédicos por Israel
Após matar 15 socorristas, exército alega suspeita de militantes e admite erro em versão inicial
O Exército de Israel afirmou nesta segunda-feira (7) que a morte de 15 paramédicos e socorristas em Gaza, no final de março, aconteceu devido a uma “sensação de ameaça” entre os soldados. O ataque, que chocou o mundo ao atingir um comboio formado por ambulâncias da Sociedade do Crescente Vermelho Palestino, um caminhão dos bombeiros e um carro da ONU, ocorreu na cidade de Rafah.
Imagens registradas por um dos paramédicos — que também perdeu a vida — mostram os veículos com luzes ligadas, prestando socorro a feridos. Mesmo assim, foram alvejados.
Segundo o porta-voz do exército israelense, Nadav Shoshani, os veículos avançaram de forma suspeita, e não exibiam sinalizações de emergência. Contudo, a própria tropa voltou atrás nesse ponto dias depois, admitindo que os veículos estavam iluminados — ou seja, a versão inicial era falsa.
As autoridades israelenses disseram que seis integrantes do Hamas foram identificados durante o confronto, tentando vincular os paramédicos ao grupo. Mas o argumento não convenceu nem a ONU nem a Cruz Vermelha, que condenaram duramente o ataque.
“Eles ainda estavam com luvas nas mãos e uniformes no corpo. Vieram salvar vidas e acabaram enterrados em vala comum”, disse, indignado, Jonathan Whittall, da ONU. As imagens da cena mostram corpos lado a lado com ambulâncias destruídas.
O episódio é considerado o mais letal contra socorristas do Crescente Vermelho em quase uma década. O secretário-geral da Federação Internacional da Cruz Vermelha, Jagan Chapagain, lembrou que todos estavam devidamente identificados. “Eles eram profissionais humanitários. Ambulâncias marcadas. Uniformes visíveis. Não havia razão para atirar.”
Até agora, um dos trabalhadores ainda está desaparecido. A ONU pediu uma investigação completa e independente e ressaltou que profissionais de resgate jamais podem ser tratados como alvos militares.
A linha entre combate e barbárie, cada vez mais tênue, parece ter sido cruzada novamente em Gaza.