Silêncio Conveniente: Esquerda e Imprensa Ignoram Tensão em Marcha Indígena em Brasília

Silêncio Conveniente: Esquerda e Imprensa Ignoram Tensão em Marcha Indígena em Brasília

Enquanto indígenas rompem barreiras e são contidos com gás no Congresso, o discurso militante some e a indignação seletiva da esquerda e da mídia se cala.

Mais uma vez, o contraste salta aos olhos — e escancara a hipocrisia que se tornou regra nos bastidores da militância e no noticiário. Na noite de quinta-feira (10), centenas de indígenas avançaram em direção ao Congresso Nacional, durante a 21ª edição do Acampamento Terra Livre, em Brasília, e acabaram sendo contidos por forças de segurança após derrubarem as grades de proteção e tentarem forçar a entrada. O que era pra ser um ato simbólico acabou se transformando em confronto — com direito a helicópteros sobrevoando a Esplanada e uso de gás químico pelas polícias legislativas.

Porém, a cena que normalmente ganharia manchetes alarmadas, protestos inflamados e campanhas online se viu envolta num silêncio gritante. Nenhuma palavra de repúdio por parte da esquerda militante. Nenhuma hashtag escandalizada vinda dos perfis progressistas. Nenhuma cobertura crítica de uma mídia que, em outras circunstâncias, já teria estampado “repressão” em letras garrafais.

A marcha fazia parte da programação do acampamento, que reúne mais de 8 mil indígenas de diversas etnias para discutir demarcações, políticas públicas e pautas ambientais. Durante o trajeto, o combinado era que os manifestantes não ultrapassassem a Avenida José Sarney. Ainda assim, uma parte do grupo rompeu as barreiras, invadiu o gramado e tentou forçar passagem até o Congresso. A resposta policial foi rápida e enérgica, com reforço aéreo e uso de spray químico.

E onde estão os mesmos que, em janeiro de 2023, gritaram por “democracia” ao ver invasões ao mesmo prédio? Onde estão os porta-vozes da justiça social que juram defender os povos originários, mas agora se calam diante do uso de força contra eles?

A incoerência não para aí. Os próprios organizadores do evento, como a Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), seguem mobilizando os participantes com pautas urgentes e justas — como a ameaça representada pelo projeto Ferrogrão, que rasga a Amazônia e passa próximo a terras indígenas. Também protestam contra o Marco Temporal, que tenta limitar os direitos históricos dos povos originários às suas terras. Ainda assim, quando a situação foge do roteiro político palatável, muitos preferem virar o rosto.

O Acampamento Terra Livre segue até sexta-feira (11), reunindo lideranças, cartazes, cantos e denúncias. São vozes legítimas que pedem respeito, mas que, ao que tudo indica, só são ouvidas quando estão alinhadas ao discurso conveniente. Fora disso, viram nota de rodapé — abafadas pelo silêncio ensurdecedor de quem só reage quando é politicamente útil.

No fim das contas, a marcha foi mais do que uma caminhada pela Esplanada. Foi um retrato do Brasil das contradições: onde a causa indígena é usada como troféu ideológico por uns e ignorada por outros, dependendo do momento e do enredo. Um país em que a coerência é artigo raro — e a indignação tem lado.

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