Sindicatos na Mira da PF: Laços Políticos e Dinheiro do INSS na Berlinda

Sindicatos na Mira da PF: Laços Políticos e Dinheiro do INSS na Berlinda

Investigações revelam conexões entre entidades sindicais, partidos políticos e governo em meio a suspeitas de descontos irregulares em aposentadorias.

As confederações sindicais que estão sendo investigadas pela Polícia Federal e pela CGU (Controladoria-Geral da União) por descontos suspeitos em benefícios do INSS têm ligações diretas com partidos políticos como PT, PDT, PSB e MDB.

Entre as entidades sob investigação, a Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura) se destaca. Quem preside a organização é Aristides Veras dos Santos, irmão do deputado federal Carlos Veras (PT-PE), que desde fevereiro ocupa o cargo de primeiro-secretário da Câmara. A Contag lidera o ranking dos repasses: em fevereiro deste ano, foram R$ 36,5 milhões arrecadados de 1,2 milhão de associados.

Thaisa Silva, que até quinta-feira (24) era secretária-geral da Contag, também tem histórico político: já foi ligada ao PSB no Mato Grosso do Sul e, em 2024, concorreu a vereadora em Campo Grande pelo MDB, ficando como suplente.

Em nota, a Contag reagiu: “É um erro grosseiro nos colocar no mesmo patamar de entidades que têm fortes indícios de irregularidades. Nós mesmos denunciamos práticas fraudulentas em outros sindicatos.” A entidade também reforçou que não há qualquer ligação entre o deputado Carlos Veras e os acordos da Contag com o INSS. Veras, por sua vez, declarou que sua história se confunde com a da luta da agricultura familiar e do movimento sindical rural, e que sua relação com a Contag é pública e baseada em princípios de “solidariedade de classe”.

Ao contrário de outras confederações sob suspeita, a Contag não viu um salto expressivo em seu número de associados entre 2021 e 2023, conforme dados do TCU (Tribunal de Contas da União). Na prática, o quadro diminuiu: de 1,5 milhão em 2021 para 1,4 milhão no fim de 2023.

Outro nome que surge na investigação é o Sindiapi (Sindicato dos Aposentados, Pensionistas e Idosos da UGT). Seu vice-presidente é José Ferreira da Silva, o Frei Chico, irmão do presidente Lula (PT). Frei Chico ocupa cargos de direção no sindicato desde 2008.

O comando do Sindiapi é de Milton Cavalo, também dirigente do PDT, partido do atual ministro da Previdência, Carlos Lupi. O sindicato teve um crescimento acelerado de filiados: de 8.900 associados em 2021 para 54,8 mil em 2023. Em fevereiro, foram mais de 207 mil descontos em folha ligados à entidade.

Milton Cavalo declarou que o Sindiapi “não sofreu busca e apreensão em nenhuma de suas 80 sedes no país” e que “apoia integralmente as investigações sobre possíveis irregularidades”.

As apurações indicam que, entre 2019 e 2024, as onze entidades investigadas responderam por cerca de 60% de todos os descontos feitos nos benefícios do INSS. Estima-se que R$ 6,3 bilhões foram abatidos dos aposentados nesse período — embora ainda falte determinar o quanto desse valor foi retido de forma ilegal.

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