
STF manda recado a governadores: “Não dá pra estar na Paulista no domingo e no nosso gabinete na segunda”
Ministros da Corte desaprovam participação de chefes estaduais em atos com Bolsonaro que atacam o próprio Supremo — e veem incoerência política de olho em 2026.
A presença de sete governadores no ato pró-anistia comandado por Jair Bolsonaro na Avenida Paulista, no último domingo (6/4), causou um mal-estar nada discreto entre ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Nos bastidores, o recado foi direto: não dá pra fazer campanha em cima de ataques ao Supremo e, ao mesmo tempo, bater na porta da Corte em busca de decisões favoráveis.
O incômodo foi especialmente com governadores da direita e centro-direita, que vêm recorrendo com frequência ao STF para resolver pendências jurídicas dos seus estados, mas que, no palanque ao lado de Bolsonaro, não poupam críticas ao mesmo tribunal.
Estavam no ato Tarcísio de Freitas (SP), Romeu Zema (MG), Ronaldo Caiado (GO), Mauro Mendes (MT), Wilson Lima (AM), Jorginho Mello (SC) e Ratinho Júnior (PR). Um grupo mais numeroso do que o visto no evento anterior, no Rio de Janeiro, quando apenas três governadores deram as caras.
Para os ministros, o movimento tem menos a ver com ideologia e mais com cálculo eleitoral. Muitos desses governadores já estão de olho na corrida presidencial de 2026 — quando Bolsonaro estará inelegível — ou, no mínimo, buscando o apoio dele para suas reeleições. O apoio do ex-presidente, mesmo sob investigações, ainda vale voto, especialmente na base bolsonarista mais fiel.
A crítica do STF é de que há uma espécie de hipocrisia institucional em curso: os mesmos governadores que inflamam plateias contra a Corte, depois voltam, quase sempre em silêncio, para pedir ajuda nos bastidores. O Supremo não pretende responder publicamente — mas o desconforto já foi enviado com todas as letras para os envolvidos.
É um daqueles casos em que o silêncio do STF diz mais do que qualquer nota oficial.