
Suprema Corte dos EUA dá aval para Trump cancelar vistos de meio milhão de imigrantes
Decisão abre caminho para deportações em massa e derruba proteção temporária de migrantes de Cuba, Haiti, Nicarágua e Venezuela
Em uma decisão polêmica e carregada de tensão, a Suprema Corte dos Estados Unidos autorizou, nesta quinta-feira (30), que o governo Trump cancele o visto temporário de cerca de 500 mil imigrantes, que viviam legalmente no país por meio dos programas conhecidos como “parole”.
Esses programas garantiam residência e permissão de trabalho provisória para cidadãos de Cuba, Haiti, Nicarágua e Venezuela, que fugiram de crises humanitárias em seus países de origem. Agora, com a decisão, essas pessoas ficam vulneráveis à deportação imediata.
A medida derruba uma liminar anterior, que impedia o cancelamento dos vistos enquanto as ações judiciais seguiam em andamento. Este é o segundo golpe em menos de duas semanas contra os direitos dos migrantes: no dia 19 de maio, outro julgamento já havia derrubado proteções para 350 mil venezuelanos.
Como de praxe em decisões de urgência, os juízes não explicaram os motivos. Apenas duas magistradas — Ketanji Brown Jackson e Sonia Sotomayor — se posicionaram contra, alertando sobre o impacto brutal que isso causará. Elas desabafaram em seu voto:
“O tribunal subestima as consequências devastadoras de permitir que o governo desmonte, de forma apressada, a vida e o sustento de quase meio milhão de pessoas.”
🔥 Risco real de deportações em massa
O governo Trump já sinalizou que pretende usar um mecanismo de remoção acelerada, previsto na legislação, para deportar quem vive nos EUA há menos de dois anos. Isso significa que a execução dessa ordem pode ser muito rápida e sem muito espaço para defesa dos afetados.
O cenário é alarmante. Agentes do ICE (Serviço de Imigração e Controle de Alfândega) têm a meta de realizar 3 mil prisões de imigrantes por dia, buscando alcançar 1 milhão de deportações ao ano. Além disso, o governo lançou uma campanha de “auto-deportação”, oferecendo ajuda logística e até um pequeno incentivo financeiro para que as pessoas deixem o país “voluntariamente”.
Até agora, 62 mil pessoas já foram deportadas dentro desse esquema.
⚖️ Batalha judicial continua
A decisão atinge diretamente migrantes que chegaram durante o governo Biden, que havia ampliado os programas de “parole” como uma resposta humanitária para acolher quem fugia de situações críticas. Cerca de 532 mil pessoas foram beneficiadas, geralmente com autorização para permanecer por dois anos.
A juíza federal Indira Talwani, que havia barrado a medida antes da decisão da Suprema Corte, defendeu que o cancelamento desses vistos deveria ser analisado caso a caso, e não de forma coletiva e sumária.
Por outro lado, o procurador-geral da gestão Trump, D. John Sauer, rebateu, afirmando que fazer uma análise individual seria uma tarefa “impossível e colossal”, além de, segundo ele, limitar o poder do governo sobre suas políticas de imigração.
💥 “Caos generalizado”, dizem ativistas
Organizações de direitos civis reagiram imediatamente. Karen Tumlin, diretora do Justice Action Center, foi enfática:
“É devastador. A Suprema Corte permitiu que o governo Trump jogue milhares de famílias no caos. Isso não afeta só os imigrantes, mas também seus filhos, colegas de trabalho, vizinhos e toda a comunidade.”
Por enquanto, ainda não está claro quando as deportações começarão efetivamente, mas o caminho está juridicamente liberado.