Testemunha da CPI pede desculpas e Prevent Senior retira ação judicial

Testemunha da CPI pede desculpas e Prevent Senior retira ação judicial

São Paulo — Medicado com flutamida, kit Covid, intubado e cogitado para ser enviado a tratamento paliativo, o advogado Tadeu de Andrade, 68 anos, foi uma das principais testemunhas da CPI da Covid no Senado a relatar o que teria sido uma “trama macabra” da operadora Prevent Senior no tratamento de pacientes internados com coronavírus durante a pandemia.

Após denunciar seu caso aos senadores, ele reiterou as acusações à Câmara Municipal de São Paulo e em um inquérito criminal conduzido pelo Ministério Público (MPSP) que resultou na recente denúncia criminal por homicídio culposo e crime de perigo contra donos e diretores da Prevent na Justiça paulista. Somente o suposto uso indevido do tratamento paliativo para economizar leitos, parte do relato do advogado, foi arquivado pelo MPSP.

4 imagensFechar modal.1 de 4Trecho de carta de retratação de Tadeu de Andrade à Prevent Senior feita em troca de retirada de ação em que a operadora pedia sua condenação a indenização de R$ 100 mil

Reprodução2 de 4Prevent Senior tem usado carta para ampliar ofensiva jurídica contra testemunhas da CPI e do MPSP

Reprodução3 de 4Advogada usa gravação em que Tadeu confidenciou que fez acordo por receio de condenação

Reprodução4 de 4Beneficiário da Prevent Senior, Tadeu Frederico de Andrade foi testemunha do MPSP e da CPI da Covid; ele pediu desculpas à empresa

Pedro França/Agência Senado Após todos esses depoimentos, Tadeu de Andrade (foto em destaque) foi alvo de uma ação judicial movida pela Prevent Senior na qual a empresa pediu o pagamento de uma indenização no valor de R$ 100 mil por danos morais. Com receio de uma eventual condenação, o advogado procurou a empresa, no ano passado, e pediu desculpas em troca da retirada do processo.

Com o depoimento de Andrade em mãos, a Prevent Senior tem usado o relato para abastecer ações judiciais contra médicos e uma advogada que denunciaram os tratamentos sem comprovação científica contra Covid-19 nas dependências dos hospitais da operadora, em São Paulo. Nessas ações, a empresa pede até R$ 300 mil a título de danos morais e se diz vítima de acusações inverídicas.

Pedido de desculpas “Venho por meio desta declaração, em razão de declarações prestadas às CPIs e também a alguns veículos de comunicação, apresentar minha retratação perante à Prevent Senior”, diz Tadeu de Andrade, no início da carta entregue à operadora, em agosto de 2023, e obtida pelo Metrópoles. No documento, ele relata ter procurado a empresa, por meio do advogado contratado para processá-lo na Justiça. Depois, foi recebido por administradores da empresa na capital paulista.

Na carta, Andrade afirma que é beneficiário do plano de saúde desde 2013, assim como sua esposa e sua mãe, “sem nunca ter qualquer reclamação quanto ao atendimento dos serviços prestados”. Ela afirma que acabou deixando ser “influenciado por alguns personagens nefastos e com outras intenções”, como “interesses políticos partidários e interesses jornalísticos”, por conta de “forte emoção” que lhe “assolava” naquele período das CPIs.

Tadeu diz ainda que se excedeu e que deveria ter centrado suas denúncias somente à médica que lhe atendeu no hospital da Prevent, e não à empresa. Segundo diz, a “retratação ocorre agora em momento de maior consciência, lucidez e entendimento dos fatos, diferentemente da minha visão do passado em relação à Prevent Senior”.

Ofensivas na Justiça Após a retratação, a Prevent Senior retirou a ação de danos morais contra Tadeu de Andrade. O documento com pedidos de desculpas passou, então, a ser usado pela operadora em ofensivas jurídicas contra médicos e uma advogada que denunciaram o tratamento precoce e com medicamentos sem comprovação científica na CPI da Covid.

Somente contra a advogada Bruna Morato, foram duas ações judiciais, ambas com pedidos de R$ 300 mil de indenização. Ela representou médicos que serviram de testemunhas para a CPI e para o MPSP. Também defendeu Tadeu de Andrade na ação que a Prevent Senior moveu contra ele. As ações têm como base entrevistas e depoimentos.

Bruna Morato chegou a ser condenada a indenizar a Prevent Senior em R$ 300 mil em uma das ações. O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) reverteu a condenação. Nesse processo, a empresa chegou a usar o relato de Andrade a seu favor para manter a condenação da advogada, mas a estratégia não funcionou.

Áudios sobre desespero Em outra ação contra a advogada, o roteiro se repetiu. Em sua defesa, Bruna Morato anexou uma ata notarial na qual expõe a transcrição de áudios de Tadeu de Andrade em conversa com ela no aplicativo WhatsApp. Nos áudios, ele diz: “Provavelmente, o juiz vai dar ganho de causa para a Prevent. Então, agora que sai a sentença logo mais, eu devo perder essa ação, lá? E eu tô bem, bem, bem desesperado com isso”.

“Dessa declaração [retratação] para que eu possa concordar e, então, eles arquivariam o pedido e o arquivamento do processo, sem resolução do mérito, né?”, disse Andrade na conversa com Bruna Morato. Ele, então, pediu para que ela revogasse sua procuração para que outro advogado lhe representasse.

A Prevent Senior também usou o depoimento de Tadeu de Andrade em processos contra outros médicos, como foi o caso de George Joppert Neto. Ele está entre os médicos que elaboraram um dossiê para denunciar o uso do kit Covid em meio à pandemia.

“Ficávamos na dúvida se o paciente voltava ao hospital com sintomas por causa do agravamento da doença ou dos efeitos colaterais dos medicamentos”, disse o médico em um de seus depoimentos na Câmara Municipal.

No processo contra Joppert, a Prevent Senior afirma que o depoimento de Tadeu de Andrade “só reforça as mentiras ditas dolosamente e com fins de interesse pessoal” do médico que, segundo a empresa, é “sabedor da ampla repercussão dos seus ataques públicos”. Nessa ação, ele é cobrado em R$ 100 mil pela empresa.

Procurada pelo Metrópoles, a Prevent Senior afirma que Tadeu de Andrade procurou a empresa, em agosto de 2023, “dizendo-se arrependido do que havia dito sobre a empresa em depoimentos e entrevistas e visando restabelecer a verdade dos fatos”.

“Propôs que fosse retirada a ação judicial indenizatória por danos morais movida contra si em troca de uma retratação escrita, o que foi aceito. A retratação somente é usada em peças judiciais que têm como base as antigas acusações, admitidas como infundadas pelo próprio beneficiário”, diz a Prevent.

FONTE: Metrópoles

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