
Título:Universidades à beira do colapso: cortes forçados ameaçam funcionamento básico das federais
Com orçamento engessado até novembro, instituições racionam gastos e alertam que podem não chegar ao fim do ano com luz, água e segurança garantidos
De norte a sul do país, as universidades federais estão apagando luzes e fechando portas — literalmente. A partir de um decreto do governo Lula que limitou a liberação mensal de verbas, as instituições só poderão usar pouco mais de 60% do orçamento previsto até novembro. Resultado? Uma crise em cadeia: cortes em limpeza, segurança, combustível, transporte, manutenção e até em disciplinas oferecidas aos alunos.
Na prática, os reitores agora precisam fazer escolhas duras, como decidir se pagam a conta de luz ou compram insumos para o laboratório. Em casos como o da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que acumula uma dívida de R$ 61 milhões, o dinheiro de maio já acabou — e o mês ainda nem terminou.
Na Universidade Federal de Alagoas (Ufal), referência nacional em inteligência artificial aplicada à educação, os cortes atingiram diretamente os serviços básicos. Foram dispensadas as capinas, reduzido o contrato de limpeza e diminuída a carga horária dos vigilantes. A previsão é sombria: se nada mudar, a instituição só conseguirá funcionar até setembro. “Estamos em modo sobrevivência”, resumiu a reitoria.
Outras instituições também já sentem os reflexos. Na UFRGS, o transporte interno foi suspenso. Na UFCG, contratos serão pagos de acordo com a urgência da dívida. No Cefet-MG, reformas, compras de móveis e insumos laboratoriais foram congelados. E em muitas outras universidades, professores já deixaram de oferecer disciplinas por falta de infraestrutura básica — como salas adequadas e equipamentos funcionando.
Segundo José Daniel Diniz Melo, presidente da Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior), o maior problema está no timing: grande parte dos recursos só será liberada em dezembro, quando o calendário letivo já estiver praticamente encerrado. “É impossível manter contratos contínuos de segurança, limpeza, assistência estudantil e energia com esse tipo de liberação”, diz ele.
Para piorar, os empenhos — ou seja, os compromissos de gastos — precisam ser feitos até o dia 2 de dezembro. Isso significa que as universidades terão apenas dois dias para tentar executar quase metade do orçamento, algo considerado impraticável.
O MEC respondeu dizendo que vem tentando, desde 2023, recompor os cortes que começaram ainda em 2016. No entanto, os números mostram que o esforço tem sido insuficiente: o orçamento discricionário de 2025 (aquele que cobre despesas como luz, água, manutenção e bolsas) é de R$ 5,7 bilhões — pouco mais da metade do que havia em 2011, enquanto o número de alunos e cursos aumentou consideravelmente.
Além disso, o valor solicitado pelas instituições no início deste ano era de R$ 7,81 bilhões, equivalente ao patamar de 2019, corrigido pela inflação. Mesmo com alguns ajustes feitos nos últimos anos, a conta não fecha.
No Rio de Janeiro, o Fórum de Reitores já se articula para pedir ajuda aos deputados estaduais. Uma reunião com parlamentares está marcada para a próxima segunda-feira.
Serviços em risco iminente:
- UFPB: Interrompeu manutenções prediais não essenciais. Fornecimento de água, energia e transporte pode ser suspenso.
- UFPR: Ainda sem dívidas, mas avalia que não conseguirá manter as operações até o fim do ano.
- Cefet-RJ: A verba disponível até novembro equivale à que normalmente recebe só até julho. Algumas atividades podem parar antes do fim de 2025.
- Unifesp: O contingenciamento agravou a situação, e a reitoria alerta para risco de paralisação de serviços essenciais e pagamento de multas por atrasos.
A cada novo corte, o que está em jogo não é só o funcionamento das universidades, mas o futuro de milhares de estudantes que dependem da estrutura pública para estudar, comer e viver. A crise, se não for revertida, pode significar um apagão no ensino superior brasileiro.