
Trump impõe força militar a Los Angeles e reacende crise com Califórnia
Fuzileiros navais são enviados sem aval do estado para conter protestos contra a política de imigração; autoridades locais acusam Trump de abuso de poder
Ao menos 200 fuzileiros navais foram deslocados para Los Angeles, na Califórnia, como parte de uma ordem do ex-presidente Donald Trump, que determinou o reforço militar para conter protestos em curso contra suas rígidas medidas de imigração. A missão dos militares, segundo o major-general Scott Sherman, é proteger prédios e funcionários federais na cidade.
A medida foi tomada após uma onda de manifestações iniciadas em 6 de junho, quando agentes federais do ICE (Serviço de Imigração e Controle de Aduanas) realizaram operações que resultaram na prisão de pelo menos 44 imigrantes. A resposta da população foi imediata, com protestos que rapidamente tomaram as ruas de Los Angeles e se espalharam para outras regiões do estado.
Diante da escalada dos confrontos e da tensão nas ruas, Trump ordenou o envio da Guarda Nacional à Califórnia, mesmo sem autorização do governador Gavin Newsom. Três dias depois, também determinou que fuzileiros navais se unissem aos agentes da Guarda, elevando para cerca de 700 o número de militares mobilizados na cidade.
Apesar da presença ostensiva, o general Sherman assegurou que os soldados não terão funções policiais, limitando-se a proteger propriedades federais e agentes da lei, enquanto a polícia local se encarrega de eventuais prisões.
A chegada das tropas federais reacendeu a tensão entre o governo estadual, de maioria democrata, e a gestão de Trump. Autoridades da Califórnia reagiram com veemência: o procurador-geral Rob Bonta entrou com uma ação judicial para tentar barrar o envio de tropas, alegando que a situação não justifica a federalização da Guarda Nacional — prerrogativa que só deve ser usada em casos de rebelião ou ameaça grave à ordem constitucional.
“Não há revolta, não há invasão. O que existe é um presidente tentando semear o caos de forma proposital”, disse Bonta em comunicado oficial.
O governador Newsom também criticou duramente a decisão, afirmando que os protestos seguiam controlados até que Trump decidiu intervir. “Revoguem essa ordem. Devolvam o controle à Califórnia”, afirmou o governador.
Trump, por sua vez, usou as redes sociais para atacar as lideranças locais. Elogiou a atuação da Guarda Nacional e chamou o governador e a prefeita de Los Angeles, Karen Bass, de “incompetentes”, acusando-os de não saber lidar com crises. A prefeita respondeu dizendo não compreender qual seria o papel dos fuzileiros enviados à cidade.
A crise, que começou com manifestações contra a política migratória, agora se desenha como um embate político e institucional entre o governo federal e o estado da Califórnia — reacendendo velhas disputas e lançando luz sobre o uso das forças armadas em solo nacional.