Trump provoca tensão na Casa Branca e insiste em acusações de “genocídio branco” na África do Sul

Trump provoca tensão na Casa Branca e insiste em acusações de “genocídio branco” na África do Sul

Durante reunião tensa com o presidente Ramaphosa, Trump exibe vídeo polêmico e reforça narrativa contestada, enquanto líder sul-africano responde com ironia e firmeza

No que parece já uma rotina turbulenta na Casa Branca, o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, se envolveu numa discussão acalorada e cheia de acusações sem provas com seu visitante no Salão Oval, o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa. Trump repetiu a velha e contestada narrativa de um “genocídio branco” no país africano, usando um vídeo como “prova” durante o encontro — uma alegação que tem sido duramente rejeitada pela oposição sul-africana e especialistas.

Poucas semanas após um embate igualmente difícil com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, esperava-se que o encontro com Ramaphosa também seria marcado por tensão. E não decepcionou.

Trump iniciou o encontro classificando Ramaphosa como “controverso” e logo voltou a falar da suposta violência contra a minoria branca na África do Sul — uma tese defendida por grupos nacionalistas e amplificada por pessoas próximas a ele, como Elon Musk, que é sul-africano.

“Há muita gente preocupada com a situação na África do Sul. Muitas pessoas se sentem perseguidas,” afirmou Trump, tentando justificar o motivo da reunião.

Em fevereiro deste ano, o governo americano já havia suspendido toda ajuda à África do Sul, em retaliação a uma lei local que permite a expropriação de terras privadas em nome do “interesse público” — algo que acendeu um debate intenso sobre a propriedade e o passado colonial do país. Os brancos representam menos de 10% da população, mas ainda controlam grande parte das terras agrícolas, uma herança dolorosa do apartheid.

O governo americano chamou essa lei de um “ataque chocante aos direitos humanos” e afirmou que haveria uma perseguição racial. Em resposta, Ramaphosa e a chancelaria sul-africana disseram que os EUA não entendem a complexidade da história do país e acusaram Washington de espalhar desinformação para manchar a imagem da África do Sul.

Durante a reunião, Trump mandou diminuir as luzes e exibiu um vídeo que, segundo ele, mostrava “provas” da perseguição contra brancos. No vídeo, imagens de cemitérios clandestinos e cenas que ele apontava como de violência contra agricultores brancos eram exibidas, junto com cenas do líder oposicionista Julius Malema cantando uma música que alguns sul-africanos interpretam como um chamado à violência contra brancos.

Ramaphosa, com a experiência de quem conhece a história do continente, manteve a calma e rebateu dizendo que a política do país é democrática e que a imagem mostrada não condiz com a realidade.

“Gostaria de saber onde isso foi filmado, porque nunca vi algo assim,” afirmou Ramaphosa, que tentou aliviar o clima dizendo com ironia: “Me desculpe, mas não tenho um avião para lhe dar”, em referência a uma suposta oferta de um jato pelo Catar aos EUA.

O embate ilustra como o discurso de Trump tem sido aproveitado por grupos radicais na África do Sul, como o Afriforum, que se apresenta como defensor dos direitos civis brancos, mas é classificado por entidades internacionais como um grupo supremacista disfarçado.

Ramaphosa admitiu que a violência no país é um problema grave, mas destacou que as vítimas não são apenas brancas. Ele lembrou que a Justiça local já rejeitou as alegações de “genocídio branco” como fictícias.

Segundo dados oficiais, entre outubro e dezembro de 2024, quase 7 mil pessoas foram assassinadas na África do Sul, mas apenas 12 desses ataques ocorreram em fazendas, e apenas uma vítima era proprietária da terra.

Este encontro mostra que, além de tensões diplomáticas, existem disputas sobre narrativas e realidades políticas que refletem feridas históricas e desafios presentes para a África do Sul e sua relação com potências internacionais.

Compartilhe nas suas redes sociais
Categorias