
Tuta já era peça-chave do PCC quando apareceu pela primeira vez em denúncia do MP
Investigado desde 2013, criminoso preso na Bolívia foi citado em escutas falando de tráfico e corrupção; hoje é um dos nomes mais poderosos da facção fora dos presídios
O nome de Marcos Roberto de Almeida, mais conhecido como Tuta, não é novidade nos arquivos da Justiça. Apontado hoje como uma das principais lideranças do Primeiro Comando da Capital (PCC), ele já era citado em escutas telefônicas feitas pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP) há mais de uma década. A primeira denúncia formal contra a cúpula da facção, apresentada em 2013, já trazia Tuta como um operador influente, embora ele ainda não ocupasse o alto escalão do grupo criminoso.
Na época, ele foi flagrado negociando grandes quantidades de drogas e tratando de pagamentos ilegais a policiais militares. Em uma das conversas interceptadas, Tuta pede “aqueles 20 reais”, uma referência codificada a 20 quilos de cocaína. Em outra ligação, um comparsa, conhecido como Boy, fala abertamente sobre a propina paga a PMs para afastar viaturas da região de Heliópolis, em São Paulo.
A denúncia de 2013 incluiu 175 integrantes da facção, entre eles nomes de peso como Marcola, Roberto Soriano e Julinho Carambola. Embora Tuta ainda fosse tratado como operador na época, o tempo jogaria a seu favor: com várias lideranças presas em presídios federais, ele subiu na hierarquia e assumiu o comando das ações do PCC nas ruas.
A prisão mais recente aconteceu na última sexta-feira (16/5), em uma ação conjunta da Polícia Federal brasileira e da Fuerza Especial de Lucha Contra el Crimen (FELCC), na Bolívia. Ele foi detido em Santa Cruz de la Sierra, onde usava documentos falsos. Após a prisão, Tuta foi expulso do país e trazido de volta ao Brasil, onde está agora no presídio federal de Brasília, ao lado de outros chefes da organização.
A atuação de Tuta não se restringia ao tráfico. Ele também estava à frente de um esquema bilionário de lavagem de dinheiro e chegou a ocupar, de forma surpreendente, o cargo de adido comercial no Consulado de Moçambique, em Minas Gerais, com salário registrado de R$ 10 mil.
Em 2020, ele foi alvo da Operação Sharks, mas teria escapado da prisão ao pagar R$ 5 milhões em propina a policiais da Rota, comprando informações sobre mandados de prisão.
Com a prisão de Tuta, mais uma peça importante do quebra-cabeça do PCC volta ao sistema prisional federal, mas sua trajetória mostra o quanto o crime organizado é capaz de se infiltrar e prosperar mesmo sob vigilância intensa.