Ucrânia acusa Lula de cinismo e descarta diálogo com Zelensky

Ucrânia acusa Lula de cinismo e descarta diálogo com Zelensky

Governo ucraniano nega pedido de conversa feito por diplomatas brasileiros e critica visita de Lula a Moscou, alegando favorecimento à Rússia

A tentativa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de retomar o diálogo com o líder ucraniano Volodymyr Zelensky não foi bem recebida em Kiev. Fontes próximas ao governo da Ucrânia confirmaram ao Metrópoles que a conversa entre os dois, anunciada por Lula no último sábado (29/3), não aconteceu — e, segundo os ucranianos, nem vai acontecer tão cedo.

A resposta fria tem explicação: para o governo de Zelensky, o gesto do presidente brasileiro foi visto como “cínico”. Eles acusam o Planalto de tentar passar uma imagem de neutralidade que, na prática, não existe — principalmente às vésperas da visita de Lula à Rússia, prevista para o início de maio, onde ele participará das celebrações do Dia da Vitória, ao lado de Vladimir Putin.

Desde o início do novo mandato de Lula, as relações entre Brasil e Ucrânia são marcadas por ruídos. Zelensky já criticou abertamente a postura brasileira diante da guerra, alegando que Lula adota uma linha que beneficia a Rússia, aliada do Brasil no bloco dos Brics.

O incômodo cresceu quando Brasil e China propuseram, juntos, um plano de paz para o conflito. A iniciativa foi rejeitada pela Ucrânia, que considerou a proposta desequilibrada por não responsabilizar a Rússia pelos ataques. Para Lula, a negociação deveria incluir ambos os lados da guerra — uma posição que gerou desconfiança em Kiev.

A tentativa mais recente de contato partiu da embaixada brasileira em Kiev, que procurou o governo ucraniano na terça-feira (1º/4) para marcar uma ligação entre Lula e Zelensky nesta sexta (4/4). A resposta foi um sonoro “não”.

Fontes ucranianas relatam que, nos bastidores, o Brasil ignorou diversos pedidos anteriores para essa mesma conversa. Segundo diplomatas em Kiev, a Ucrânia tentou viabilizar um diálogo por mais de um ano e meio, com o último apelo registrado em março. Zelensky, inclusive, teria enviado duas cartas a Lula, em outubro e novembro de 2024, convidando-o a visitar o país — sem obter resposta.

Agora, diante da aproximação com Moscou, a reação ucraniana foi dura: “Depois de todo esse silêncio, Lula quer se apresentar como possível mediador de paz? Isso é uma piada”, disse um integrante do governo de Zelensky. A visão deles é que o gesto soa mais como uma jogada diplomática para suavizar a imagem internacional de Lula antes da visita à Rússia, do que um esforço sincero de mediação.

O Ministério das Relações Exteriores do Brasil, quando questionado, repassou o tema para a Secretaria de Comunicação Social da Presidência, que negou que o encontro tenha sido cancelado. Já a diplomacia brasileira em Kiev afirmou não ter conhecimento de qualquer rejeição formal por parte da Ucrânia.

Enquanto as versões se desencontram, o diálogo entre os dois presidentes continua travado. E o pano de fundo segue o mesmo: desconfiança, mágoas acumuladas e um conflito que está longe de acabar — tanto no front da guerra quanto na diplomacia.

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