
Vereadora do Piauí dribla prisão e fala por vídeo com namorado, chefe de facção
Mesmo atrás das grades, Tatiana Medeiros manteve contato com o líder do Bonde dos 40, fez compras online e buscou passagens aéreas; PF descobriu uso de celular ilegal na cela poucos dias após sua prisão.
A rotina de cela da vereadora Tatiana Medeiros (PSB), de Teresina, parece ter sido bem diferente da maioria dos presos comuns. Detida desde abril por envolvimento com a facção criminosa Bonde dos 40, a parlamentar conseguiu manter um canal de comunicação direto com o mundo externo — inclusive com seu namorado, Alandilson Passos, apontado como líder da facção, preso em Minas Gerais.
Segundo a Polícia Federal, Tatiana usava um iPhone 16 dentro da cela, instalada no Quartel do Comando-Geral da PM do Piauí. O aparelho foi utilizado para realizar videochamadas com o companheiro pelo menos três vezes, além de servir para conversas com parentes, advogado, compras online e até pesquisa de passagens aéreas. A movimentação surpreendente começou apenas quatro dias após sua prisão, no dia 7 de abril.
Em pouco tempo, ela enviou mais de 1.500 mensagens por aplicativo, revelando um cotidiano bem ativo para quem deveria estar sob restrições severas. A descoberta veio à tona na mesma semana em que a Justiça concedeu prisão domiciliar à vereadora, com uso de tornozeleira eletrônica e proibição de frequentar a Câmara Municipal.
Tatiana Medeiros foi presa no início de abril durante a segunda fase da Operação Escudo Eleitoral, da PF. Eleita em 2024 com quase 3 mil votos, ela também é fundadora do Instituto Vamos Juntos, uma ONG localizada na zona Norte de Teresina — e que, segundo a investigação, pode ter servido de ponte para desvio de verbas e financiamento ilícito de campanha com dinheiro da facção.
Durante a investigação, a PF encontrou R$ 100 mil em espécie dentro das instalações da entidade, reforçando os indícios de ligação direta entre a parlamentar, o instituto e o crime organizado.
A situação de Tatiana escancara mais uma vez como figuras públicas, mesmo sob vigilância e acusação formal, conseguem burlar o sistema. A trama que mistura política, facção e privilégio dentro da cadeia expõe um dos rostos mais preocupantes da impunidade no Brasil: o de quem continua mandando mesmo de dentro da cela.