Vildete, 74 anos, definha na prisão: condenada sem provas e ignorada pela Justiça

Vildete, 74 anos, definha na prisão: condenada sem provas e ignorada pela Justiça

Mesmo doente, idosa segue encarcerada sob ordens de Moraes, com saúde em colapso e sem acesso ao tratamento adequado. Família denuncia abandono: “Estão matando a minha mãe”.

Aos 74 anos, Vildete da Silva Guardia vive um drama silencioso atrás das grades. Desde junho de 2024, ela está presa na Penitenciária Feminina de Santana, em São Paulo, acusada de envolvimento nos atos de 8 de janeiro. A acusação, no entanto, não se sustenta em provas materiais — sua condenação, que soma 11 anos e 11 meses, se baseia apenas no fato de ela estar nas proximidades do Palácio do Planalto, onde buscava abrigo das bombas de gás lançadas pela polícia.

Antes de ser levada ao cárcere, Vildete se recuperava de uma cirurgia delicada para retirada de um tumor, tratava uma trombose e realizava acompanhamento com diversos médicos em sua casa, em Santo André (SP). Desde então, sua saúde só piorou. “Minha mãe está pesando cerca de 40 quilos, perdeu a mobilidade das pernas e vive em uma cadeira de rodas. Ela sente dores constantes e não recebe a assistência médica necessária”, relata, aflita, sua filha, Paula Guardia Felipi. “Estão matando a minha mãe aos poucos.”

Segundo a defesa, liderada pelo advogado Jaysson Mineiro de Franca, já foram feitos três pedidos de prisão domiciliar, todos acompanhados de laudos médicos particulares que apontam uma série de comorbidades: trombose, osteoporose, bronquite asmática, cisto renal, retocolite e transtorno depressivo. O último pedido, feito em fevereiro de 2025, detalha que ela não consegue mais caminhar e precisa de andador — mesmo assim, o ministro Alexandre de Moraes negou novamente a solicitação.

A penitenciária, por outro lado, insiste em afirmar que o estado de saúde de Vildete é “estável”, que ela realiza suas atividades normalmente e está sob acompanhamento médico. A defesa rebate duramente: “Ela não está sendo tratada como deveria. O quadro dela é grave, e o presídio não tem estrutura para atender uma senhora nessas condições.”

De acordo com a legislação brasileira, pessoas com mais de 70 anos ou portadoras de doenças graves têm direito à prisão domiciliar, inclusive se estiverem cumprindo pena em regime fechado — desde que os crimes não envolvam violência direta. No caso de Vildete, embora não tenha praticado nenhum ato violento, o ministro Moraes considerou que ela aderiu, de forma genérica, à violência coletiva, e por isso decidiu mantê-la presa.

Para juristas como o doutor Rodrigo Chemim, trata-se de uma interpretação discutível. “Mesmo em casos de regime fechado, a jurisprudência do STJ admite a prisão domiciliar por questões de saúde. É evidente que se trata de uma situação de vulnerabilidade e abandono jurídico.”

Enquanto os recursos se arrastam na Justiça, Vildete segue atrás das grades, frágil e invisível, sendo lentamente consumida pela omissão.

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