Yanomami: governo não atualiza dados desde aumento de mortes em 2023

Yanomami: governo não atualiza dados desde aumento de mortes em 2023

A divulgação dos dados epidemiológicos da Missão Yanomami pelo governo federal foi interrompida após a polêmica gerada pelo aumento de mortes registrado em 2023. O último informe disponível, datado de 22 de fevereiro deste ano, é o mesmo documento que reporta o número de óbitos do ano passado.

Em 2023, foram contabilizadas 363 mortes, representando um aumento de 6% em relação ao ano anterior (343 óbitos). A divulgação desses dados teve grande repercussão, pois era o primeiro ano de trabalho da equipe interministerial enviada pelo governo. O Ministério da Saúde alegou que havia subnotificação nos anos anteriores, o que tornava arriscado comparar os dados. Desde então, a pasta deixou de divulgar os números periodicamente.

A Missão Yanomami, que teve início em janeiro do ano passado, foi uma das primeiras ações do governo após a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O presidente e alguns ministros visitaram a região, onde foi declarada situação de Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional (Espin) e criado o Centro de Operações de Emergências em Saúde Pública (COE-Yanomami).

Inicialmente, os informes epidemiológicos eram publicados diariamente, depois semanalmente e, a partir de setembro do ano passado, mensalmente. Em fevereiro deste ano, a divulgação foi interrompida após o aumento das mortes em 2023.

Calamidade e Ameaça do Garimpo Ilegal

A situação de calamidade enfrentada pelos Yanomami, agravada pela desnutrição severa e doenças, chocou o país nos últimos anos. A Câmara e o Senado aprovaram recentemente uma Medida Provisória destinando R$ 1 bilhão para a proteção dos indígenas na região.

Nos últimos quatro anos, pelo menos 570 crianças Yanomami morreram por causas evitáveis, segundo a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara. A falta de medicamentos e assistência agravou a situação. Entre 2019 e 2022, foram registradas 538 mortes de crianças menores de 5 anos no território Yanomami, das quais 495 (92%) poderiam ter sido evitadas, segundo o Ministério da Saúde.

O último relatório divulgado pelo governo indicou que, em 2023, foram registrados 29.9 mil casos de malária, mais de 7.1 mil de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) e mais de 26.7 mil de síndrome gripal. A população Yanomami, até dezembro de 2023, era de 32.052 indígenas, dos quais mais de 60% tinham menos de 20 anos.

Sem a divulgação de dados recentes, é impossível saber o contexto atual da operação federal na terra indígena. O Ministério da Saúde informou ao Metrópoles que 1.497 profissionais continuam atuando na região, entre médicos, enfermeiros, farmacêuticos, fisioterapeutas e nutricionistas, além de 342 profissionais de apoio.

Falta de Dados Epidemiológicos Recentes

Questionado sobre os dados do primeiro semestre deste ano, o Ministério da Saúde respondeu que após a análise dos óbitos Yanomami divulgados pelo Censo 2023, foram identificadas inconformidades nos registros do Sistema de Informações da Atenção à Saúde Indígena (Siasi). A Sesai e o IBGE estão conduzindo um inquérito demográfico para esclarecer as diferenças entre os dados e uniformizar a metodologia de contagem. O Ministério da Saúde está comprometido em divulgar todos os dados de saúde da população brasileira, incluindo os indígenas, após concluir todos os procedimentos necessários.

Além disso, foi implementado em abril deste ano um novo tratamento para controlar a malária vivax entre os indígenas, chamado Tafenoquina, que tem gerado maior adesão por parte da comunidade.

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